. Aqui estão o ódio do próprio corpo, da compleição disforme em que se encontra, de uma herança genética que tira da narradora a escolha e a faz 'gorda feito uma baleia'.
Ela odeia a comida que a engorda, mas ama o alimento que lhe dá prazer.
Ser Gorda
Muitas são as pessoas na nossa sociedade que ignoram as pessoas mais gordas, ou melhor, fogem deles a sete pés porque julgam que estar com um obeso irá diminuir-lhes a imagem perante os outros. Vendo na gordura algo repugnante, a mentalidade da época moderna apenas aplaude os corpo magros, escanzelados, com os ossos a sobressaírem. A gordura deixou de ser formosura para passar a ser um pecado social, discriminando os gordos em diversas situações.
Na realidade, ser gorda é um problema que apenas diz respeito a quem o é na realidade. O resto das pessoas devem encarar a obesa por aquilo que ela é interiormente, aquilo que ela vale, e demonstra enquanto pessoa. Tudo o resto são meras conjecturas, muitas delas sem razão de o ser, fruto de uma sociedade com uma mentalidade ridícula e que apenas dá valor aos corpos que são exibidos nas revistas e televisão. Há, sem dúvida, uma discriminação à pessoa que é gorda, dificultando a sua vida em muitos sectores, nomeadamente no campo profissional.
A ideia de que se a pessoa obesa quiser perde peso, prolifera ainda nos circuitos sociais. Porém, esta afirmação não corresponde totalmente à veracidade da questão. A pessoa obesa pode tentar perder peso, e pode até consegui-lo, mas num período de três anos a dieta acaba por se revelar ineficaz. Ainda que as calorias ingeridas sejam mínimas, a verdade é que o corpo consegue corresponder a este impulso apenas num período de tempo limitado. A pessoa obesa pode até continuar com a dieta, mas chega a uma determinada altura em que a dieta já não demonstra os seus benefícios.
Ser-se gorda nem sempre é um problema exclusivo da alimentação da pessoa ou da falta de exercício. O peso de uma pessoa provém de um número extenso de factores que passa pela genética, o antepassado familiar, e o próprio metabolismo de cada um. Se experimentar uma dieta, esta mostra-se muito eficaz num determinado período, mas quando a deixa o corpo tem tendência a engordar o dobro do que na altura em que a iniciou. Nem sequer é uma questão de força de vontade, mas sim uma perspectiva metabólica para a qual o obeso não tem armas para lutar.
O facto de ser gordo pode não ser necessariamente algo que fuja dos padrões de saúde. Dependendo da forma como a pessoa se sente, a obesa pode até levar uma vida perfeitamente normal e os seus exames médicos revelarem que está tudo bem. Por isso, a questão do peso pode não implicar sempre outros tipos de problemas de saúde. O ideal é a pessoa obesa manter-se o mais saudável possível, comendo regularmente todas aquelas coisas fundamentais para o organismo e que não contenham muita gordura. Mesmo que não note uma grande diferença na balança, convém alimentar-se devidamente segundo os padrões da boa alimentação e fazer algum exercício físico, pois a vida sedentária prejudica ainda mais o indivíduo.
A pessoa obesa sente-se muitas vezes discriminada. A vida profissional é um dos sectores onde a pessoa obesa encontra graves problemas. Mesmo em cargos nos quais o encontro com o cliente ou público não são necessários é habitual que se verifique uma discriminação nesse sentido, anulando logo as hipóteses ao candidato a essa vaga. Ao sentirem-se discriminados pela sociedade, muitos dos obesos acabam mesmo por não irem a ginásios exercitar-se com receio que as pessoas olhem ou comentem o seu corpo. Por causa deste tipo de situações, a pessoa obesa pode também ter problemas em relacionar-se com alguém no campo amoroso e sexual. Sabendo que os outros a repudiam é natural que sinta que também no amor possa vir a sentir-se rejeitada pelo sexo oposto.
Este tipo de situações podem vir a tornar a pessoa extremamente nervosa, frágil e sem qualquer nível de auto estima. E, quando se apercebem realmente disso, a tendência é apenas uma: comer ainda mais. O importante é não deixar que a pessoa se vá abaixo, independentemente da sensação de discriminação que possa estar a sentir. Na realidade, a pessoa obesa pode fazer tudo aquilo que uma pessoa com um peso normal faz. Portanto, a diferença é apenas uma questão de peso e nada mais. Os obesos são pessoas iguais a outras quaisquer que apenas anseiam sobreviver numa sociedade que é de todos, gordos e magros, altos e baixos, negros ou brancos.
A ideia que os gordos são feios, uma ideia muito habitual, é totalmente falsa. Se reparar com atenção vai encontrar pessoas obesas bem bonitas, mas a sociedade apenas não as vê porque se mentalizou à partida de que os gordos são pessoas feias. A única diferença entre os obesos e os não obesos é apenas a largura, pois tudo o resto são atributos possíveis em qualquer um deles. Ser gorda não é vergonha nenhuma, nem tem que ter pudor em relação a isso. Tratam-se de pessoas com disfunções metabólicas, mas que não devem ser julgadas apenas por terem uns quilos a mais.
Se é uma pessoa obesa orgulhe-se de ser tal como é, isto se já tentou de tudo e não encontrou solução para o seu caso. Se ainda não se esforçou devidamente para perder peso, a solução é aplicar-se um pouco mais e ter muita força de vontade. Até lá, não tenha nunca vergonha de ser como é!
Sempre fui uma garota ‘gordinha’. Ou forte, como diria meu pai. Na verdade isso nunca me incomodou muito, mesmo sendo alvo de piadas e gozações dos meus irmãos e familiares. Eu sempre ouvia duas máximas na infância: ‘você vai ser gorda, baixinha e feia. Ninguém vai querer namorar você’ ou ‘você vai ser gorda e não vai poder usar saia curta. Nem terá namorado’. Claro que isso me incomodava, mas sempre respondia com impropérios e palavrões. É sempre fui uma criança ‘boca suja’, mas isso fica pra outro post. Bom, mas voltando… não cresci com grandes encanações, mas eis que chega a adolescência e tudo muda. Ao contrário das expectativas, sou alta, mas continuei ‘gordinha’ e resolvi o problema bucal odontológico usando aparelho ortodôntico; e sim!, sempre namorei. E caras gatos, tá? Mas a crueldade de colegas de classe e de alguns ditos ‘amigos’ me ajudaram muito a ingressar numa fase meio depressiva. Eu não me arrumava muito e me isolei em casa durante um tempo. Os apelidos eram sempre idiotas, mas o que me magoava eram os comentários e comparações. Minha mãe me comprava com a filha de uma amiga, a Daniela. Sempre magra, linda, delicada, estudiosa. Totalmente o meu oposto. Graças a Deus essa garota é uma fofa e nunca tive inveja ou raiva por conta das comparações. Sigo admirando essa menina!
Mas sempre me chateou o fato de minha mãe idolatrar a filha de alguém mas mal reparar na própria filha. Além disso me incomodava demais quando eu sentava e alguém me dizia pra ter cuidado pra cadeira não quebrar ou pra eu nunca pular por conta do risco de afundar o piso. Aí entramos naquela velha história: ninguém tem espelho em casa? Por que alguém mais magro seria melhor que eu?? As pessoas não vêem como isso magoa? Qual a graça de ver alguém se sentindo mal? As pessoas acham que os gordos, ou obesos (pra ficar politicamente correto) são assim porque querem. Porque comem feito baleia, porque comem mal. Ninguém se importa. Aliás, nem imagina que alguém pode ser obeso por problemas de saúde, por alguma disfunção física, ou mental/psicológica, mesmo. Somos sempre os acomodados, preguiçosos e gulosos. Ou olhudos, como dizemos em minha família. Fulano tem o olho maior que a barriga!, pra caracterizar alguém esfomeado. Há algum tempo fiquei seriamente doente e emagreci horrores. Cheguei aos 65 quilos. Cansei de ouvir ‘nossa! Você tá linda magra. Mantenha-se assim’. É facílimo se manter nesse peso quando não se come nem bebe nada por 2 meses. Quando se vive a base de sonda nasogástrica. É facílimo. Por que essa obsessão por magreza? O que se ganha com essa maldade gratuita?? Depois dessa internação mergulhei de cabeça na onda do efeito sanfona. Demoro pra emagrecer, mas engordo numa velocidade… Hoje me assumo. Meu pai diz que sou forte. Não sou. Forte é quem consegue levantar um carro. Eu sou gorda! Às vezes uso do humor pra não sair com uma resposta ríspida. Digo que baleia nada o dia inteiro e é gorda. Elefante só come mato e é gordo. Até avião tem pneu. Outras vezes parto pra estupidez mesmo. Não preciso me justificar pras pessoas o meu peso. Sou mais que lipídios e tecido adiposo. Sou cérebro, sentimentos, idéias. Quem tiver que gostar de mim, que goste. Mesmo gorda; trabalho, saio, me divirto, vez ou outra dou uns beijos. Procuro pessoas que se adéqüem a mim. Não me adéquo a ninguém. A adolescência se foi, e com ela, grande parte da minha insegurança. Sou o que sou. Não vou mudar. Uso do exemplo do Faustão: só emagreço por problema de saúde. Não vou me escravizar me tornando uma pessoa fútil, vazia, só pra agradar aos olhos de quem passa. Ainda me pego olhando fotos antigas e pensando que eu não era tão gorda assim. Mas me olho no espelho e acho que posso tirar proveito de como sou hoje. E essas fotos só me trazem a certeza de como as pessoas podem ser cruéis. Podem influenciar de maneira ultra negativa o nosso futuro. Mas to aprendendo a levantar a cabeça e deixar de lado certas opiniões. Afinal, sou gorda e posso emagrecer quando quiser. E quem é feio? Aí a coisa complica, né.
Um comentário:
Liliam, sem esquecer que é mais que normal que ganhemos peso com a idade. Fui na endocrinologista e ela simplesmente me perguntou como era a genetica da minha família. Bem, desencanei e tento desencanar aquela pessoa que voce conhece tanto quanto eu e que de vez em quando me magoa por eu nao ser usar mais roupas de adolescente (imagina que caos eu regredir metade da minha idade!)
Beijo grande, saudades de voce!
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