terça-feira, 17 de julho de 2012
O Louco
Como me tornei um louco
perguntas-me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia,muito antes de muitos deuses terem nascido, acordei de umprofundo sono e descobri que todas as minhas máscaras tinhamsido roubadas - as sete máscaras que moldei usei em sete vidas -corri sem máscara pelas ruas apinhadas de gente gritando “Ladrões,ladrões, malditos ladrões.”
Homens e mulheres riram-se de mim e alguns correram para suascasas com medo de mim.E quando cheguei ao mercado, um jovem que estava num telhadogritou, “É um louco.” Olhei para cima para o ver; o sol beijou o meurosto despido pela primeira vez. Pela primeira vez o sol beijou o meurosto despido e a minha alma ficou inflamada de amor pelo sol, e nãoquis mais as minhas máscaras. E como se num transe gritei,“Benditos, benditos são os ladrões que roubaram as minhas máscaras.
.”Assim me tornei um louco.E na minha loucura encontrei tanto liberdade como segurança; a libertação da solidão e a segurança de não ser compreendido, porqueaqueles que nos compreendem escravizam algo em nós.Mas deixa-me não ficar demasiado orgulhoso da minha segurança.Até um Ladrão numa prisão está a salvo de outro ladrão GIBRAN
O Poeta
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.
Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.
Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.
Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.
E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.
Gibran Khalil Gibran
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.
Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.
Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.
Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.
E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Da natureza da maldade humana
O suíço Jean-Jacques Rousseau considerado um dos maiores pensadores europeus no século XVIII, foi o autor de inúmeras obras que inspiraram as grandes reformas políticas e educacionais. Formou, com Montesquieu e outros iluministas, um grupo de brilhantes pensadores que são distinguidos como os patronos da ciência política moderna. Há algum tempo interessei-me por um texto deste pensador, cujo título é "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens". Talvez, por puro atrevimento, ousamos desenvolver ou alinhavar modestas reflexões sobre este valioso trabalho. De forma resumida, Rousseau defendeu a tese da bondade natural dos homens, depois pervertidos pelas civilizações.
Passados mais de duzentos anos, o crepúsculo do século XX nos presenteou com um dos maiores conhecimentos desenvolvidos pelo homem. Certamente muito mais importante do que a chegada do homem à Lua. Cientistas produziram um esboço do genoma humano, ou seja, completaram a cadeia de instruções bioquímicas que descrevem como o corpo humano é feito e como funciona. Para decifrar o código genético humano, os cientistas tiveram que ler três bilhões de informações químicas contidas no DNA das células humanas. Com estas informações temos conhecimento que todas as células vivas são controladas pelas suas características genéticas, que são transmitidas de uma geração a outra. Essas instruções gênicas são dadas por um sistema de códigos baseados numa substância chamada DNA (ácido desoxirribonucléico) que contém mensagens intrínsecas a sua estrutura química.
Foi esta maravilhosa descoberta que levou-nos a levantar uma discussão sobre a tese de Rousseau. A maldade humana é nata ou adquirida? Hoje tenho plena convicção de que todo homem nasce geneticamente com uma carga variável de maldade. E mais, que a correção e/ou a redução desta maldade acontece nos diversos instrumentos criados pela própria sociedade. E quais são estes instrumentos? 1º) A própria família, com exemplos de valores, disciplina, caráter,costumes, atitudes, amor... 2º) A escola, que contribui com ensinamentos de cultura, arte, civilizações, ciências. 3º) A igreja (religião), com ensinamentos sobre bondade/céu/maldade/inferno. 4º) O Estado, com todo o arcabouço jurídico para exercer o poder de polícia, punição, castigo, correção, e compensações financeiras por erros (maldades). A verdade é que, mesmo com todo este conjunto de instrumentos, nossas penitenciárias estão superlotadas de delinqüentes primários e reincidentes, nossos tribunais estão abarrotados de processos tendo como origem de causa o desvio de comportamento ético/moral, nossas igrejas vivem com longas filas nos confissionários e uma grande quantidade de pessoas deitadas em divãs recebendo terapias de psicanálises.
É necessário ressaltar, que não podemos desprezar os diferentes conceitos de padrões de moralidade e convenções em distintos períodos da história da humanidade, ditados por imperadores, déspotas, pensadores e até mesmo por religiosos. Como exemplos, podemos trazer à lembrança algumas personalidades cruéis, alguns crimes coletivos e outros fatos que marcaram negativamente a natureza humana nos últimos séculos. Entre outros lembramos dos feitos de Ivan, de Stalin, de Hitler, de Pol Pot, das invasões bárbaras, das Cruzadas, da Santa Inquisição, da escravidão dos negros, do extermínio dos Astecas e dos Incas, das bombas atômicas no Japão, a recente guerra nos Bálcãs e a atual guerra entre árabes e judeus.
Portanto, independentemente de decidirmos se a infinita maldade humana nasce com o homem ou é adquirida por um processo de corrupção junto à sociedade, não podemos negar o fato de que a mesma tem acompanhado a humanidade durante milênios. Ao nosso entendimento, só existe uma solução para extirpar a maldade do homem. A resposta estaria na possibilidade de alterarmos as “falhas” genéticas de um indivíduo, através de um processo de manipulação dos genes. Justamente as “falhas” que nos trazem os desvios de ética e de moralidade. Para finalizar, apostamos que num futuro breve a maldade humana será diagnosticada como uma doença de comportamento, que poderá ser tratada através de uma simples "cirurgia" genética.
O suíço Jean-Jacques Rousseau considerado um dos maiores pensadores europeus no século XVIII, foi o autor de inúmeras obras que inspiraram as grandes reformas políticas e educacionais. Formou, com Montesquieu e outros iluministas, um grupo de brilhantes pensadores que são distinguidos como os patronos da ciência política moderna. Há algum tempo interessei-me por um texto deste pensador, cujo título é "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens". Talvez, por puro atrevimento, ousamos desenvolver ou alinhavar modestas reflexões sobre este valioso trabalho. De forma resumida, Rousseau defendeu a tese da bondade natural dos homens, depois pervertidos pelas civilizações.
Passados mais de duzentos anos, o crepúsculo do século XX nos presenteou com um dos maiores conhecimentos desenvolvidos pelo homem. Certamente muito mais importante do que a chegada do homem à Lua. Cientistas produziram um esboço do genoma humano, ou seja, completaram a cadeia de instruções bioquímicas que descrevem como o corpo humano é feito e como funciona. Para decifrar o código genético humano, os cientistas tiveram que ler três bilhões de informações químicas contidas no DNA das células humanas. Com estas informações temos conhecimento que todas as células vivas são controladas pelas suas características genéticas, que são transmitidas de uma geração a outra. Essas instruções gênicas são dadas por um sistema de códigos baseados numa substância chamada DNA (ácido desoxirribonucléico) que contém mensagens intrínsecas a sua estrutura química.
Foi esta maravilhosa descoberta que levou-nos a levantar uma discussão sobre a tese de Rousseau. A maldade humana é nata ou adquirida? Hoje tenho plena convicção de que todo homem nasce geneticamente com uma carga variável de maldade. E mais, que a correção e/ou a redução desta maldade acontece nos diversos instrumentos criados pela própria sociedade. E quais são estes instrumentos? 1º) A própria família, com exemplos de valores, disciplina, caráter,costumes, atitudes, amor... 2º) A escola, que contribui com ensinamentos de cultura, arte, civilizações, ciências. 3º) A igreja (religião), com ensinamentos sobre bondade/céu/maldade/inferno. 4º) O Estado, com todo o arcabouço jurídico para exercer o poder de polícia, punição, castigo, correção, e compensações financeiras por erros (maldades). A verdade é que, mesmo com todo este conjunto de instrumentos, nossas penitenciárias estão superlotadas de delinqüentes primários e reincidentes, nossos tribunais estão abarrotados de processos tendo como origem de causa o desvio de comportamento ético/moral, nossas igrejas vivem com longas filas nos confissionários e uma grande quantidade de pessoas deitadas em divãs recebendo terapias de psicanálises.
É necessário ressaltar, que não podemos desprezar os diferentes conceitos de padrões de moralidade e convenções em distintos períodos da história da humanidade, ditados por imperadores, déspotas, pensadores e até mesmo por religiosos. Como exemplos, podemos trazer à lembrança algumas personalidades cruéis, alguns crimes coletivos e outros fatos que marcaram negativamente a natureza humana nos últimos séculos. Entre outros lembramos dos feitos de Ivan, de Stalin, de Hitler, de Pol Pot, das invasões bárbaras, das Cruzadas, da Santa Inquisição, da escravidão dos negros, do extermínio dos Astecas e dos Incas, das bombas atômicas no Japão, a recente guerra nos Bálcãs e a atual guerra entre árabes e judeus.
Portanto, independentemente de decidirmos se a infinita maldade humana nasce com o homem ou é adquirida por um processo de corrupção junto à sociedade, não podemos negar o fato de que a mesma tem acompanhado a humanidade durante milênios. Ao nosso entendimento, só existe uma solução para extirpar a maldade do homem. A resposta estaria na possibilidade de alterarmos as “falhas” genéticas de um indivíduo, através de um processo de manipulação dos genes. Justamente as “falhas” que nos trazem os desvios de ética e de moralidade. Para finalizar, apostamos que num futuro breve a maldade humana será diagnosticada como uma doença de comportamento, que poderá ser tratada através de uma simples "cirurgia" genética.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
DECÁLOGO DOS VAMPIROS
Postado por JORGE LUIZ DE OLIVEIRA BARBOSA em 4 julho 2012 às 23:52
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DECÁLOGO DOS VAMPIROS
Vampiros não precisam se chamar Drácula, ter caninos em ponta nem vagar pelas madrugadas, vestindo capa preta, à caça de vítimas de sangue quente. É também vampiro aquele que suga a energia vital alheia. O que todos os vampiros tem em comum é o egocentrismo. O bom vampiro domina técnicas para desestabilizar as defesas psíquicas das suas vítimas, fazendo com que elas abram as portas do seu reservatório de energia.
Cuidado: qualquer um de nós pode ser sugado por um vampiro. E, num momento de descuido neurótico, pode agir como vampiro. Nossa sociedade moderna é construída, em boa parte, de vampiros. Não são, claro, vampiros literais, os clássicos dráculas que vão por aí, pelas noites, em busca de incautos pescoços tenros onde fincar seus dentes pontiagudos para sugar o sangue. Refiro-me aos vampiros de energia vital. Gente incapaz de se nutrir em fontes de energia natural e que vive sugando a força de vida das outras pessoas equilibradas, sadias - tanto no aspecto físico quanto, principalmente, no psíquico - nutrem-se diretamente das fontes naturais de energia. Mas outro tipo de pessoas, desequilibradas, que por terem perdido o contato com a sua própria natureza interna mais profunda perderam também a capacidade de absorver e processar o alimento energético natural precisa, para sobreviver, entregar-se a um expediente horrível: sugar a energia vital de outras pessoas. São eles os assim chamados "vampiros de energia". Seu número, hoje em dia, é infelizmente muito grande. Sua proliferação é justamente uma das características negativas mais marcantes da nossa sociedade da produtividade e do consumo. Consequência direta da perda de contato com o mundo natural.
TIPOS DE VAMPIROS
Vampiro cobrador
Cobra sempre, principalmente aquilo que não lhe é devido. Esse vampiro costuma apresentar-se como credor do mundo; acha a ter direito a tudo sem nada dar em troca. Exemplo: se você cruzar na rua com um vampiro conhecido, ele não irá lhe perguntar afetuosamente: "Olá, como vai? Que bom rever você. Está tudo bem?" Nada disso. Mais provavelmente, ele vai de imediato cobrar-lhe alguma coisa: "Puxa, até que enfim te vejo. Há meses espero um telefonema teu. Você esqueceu que eu existo?" Se você engolir a pílula, quero dizer, a cobrança, e vestir a carapuça de culpado de desatenção pessoal que o vampiro que enfiar na sua cabeça, já estará enfraquecendo-se e abrindo uma porta para que ele sugue sua energia.
Não fraqueje. Use imediatamente o melhor antídoto contra vampiro cobrador: cobrar de volta. Responda simplesmente: "Decidi que nunca mais iria lhe telefonar antes de você me ligar para saber se ainda estou vivo." Mas não subestime nunca a força de um vampiro. Trata-se da mesma força de alguém que tem fome e quer comer. É melhor, depois de devolver-lhe a cobrança, dar a ele um adeuzinho rápido e cair fora.
Vampiro crítico
Critica negativamente a tudo e a todos. Seu lema é: maldizer sempre, elogiar sinceramente nunca. Transmitir para a vítima uma visão feia e negativa das coisas, das pessoas e do mundo é outra técnica de desestabilização utilizada por vampiros. A crítica impiedosa e a maledicência tendem a criar no ouvinte um estado de alma escuro e pesado, e isso é outro jeito fácil de abrir uma jugular energética e se banquetear com os fluidos da vítima.
ANTÍDOTO: dizer claramente ao vampiro que ele está exagerando, que você não concorda com essas colocações e que ele deve estar muito infeliz para se concentrar tanto apenas nos aspectos negativos das pessoas, das coisas e do mundo. Adeuzinho rápido, e cair fora.
Vampiro adulador
Adula o ego da vítima, cobrindo-o de lisonjas e elogios falsos. Exatamente a técnica que o genial La Fontaine retrata na fábula O Corvo e a Raposa. O corvo, no alto de uma árvore, carrega no bico um pedaço de queijo. A esperta raposa diz ao corvo que sua voz é magnífica e pede a ele que cante. Seduzido pela adulação, o corvo abre o bico, emite um triste grasnido e deixa cair o queixo. A raposa o abocanha e, antes de comê-lo, ainda passa uma lição ao estúpido corvo: "Aprenda que todo adulador vive à custa de quem o escuta." Cuidado, portanto, com os puxa-sacos. Dentro de cada um deles está um vampiro à espreita, pronto para sugar.
ANTÍDOTO: simplesmente não de ouvidos ao adulador. Se ele insistir, conte-lhe a fábula de La Fontaine. E caia fora.
Vampiro reclamador
Cada fala ou gesto desse vampiro contém uma reclamação explícita ou implícita. Opõe-se a tudo, exige, reivindica, protesta sem parar. Mas, como suas reclamações tem pouco ou nenhum fundamento, esse vampiro raramente dispõe de argumentos sólidos e válidos para defender e justificar seus protestos.
ANTÍDOTO: mande esse vampiro parar de encher o saco. E caia fora.
Vampiro inquiridor
Dispara perguntas sobre tudo como quem atira com metralhadora. Se você tentar responder, ele cortará sua resposta antes do fim fazendo outra pergunta, talvez de um assunto completamente diverso. Esse vampiro não tem nenhum interesse em obter respostas. Sua técnica visa apenas desestabilizar o equilíbrio da mente da vítima, perturbando o fluxo normal de pensamentos desta.
ANTÍDOTO: não ocupe sua mente à procura de respostas para as perguntas do vampiro. Para cortar sua investida, reaja fazendo-lhe uma pergunta bem pessoal e contundente. Por exemplo: "Meu amigo, quando foi a última vez que você fez sexo bem feito com alguém?" E não espere a resposta. Caia fora.
Vampiro lamentoso
Para sugar a energia vital da vítima, ataca pelo lado emocional e afetivo. Faz tudo para despertar comiseração. Apresenta sua vida como um mar de lágrimas, gemidos e prantos. Cheio de mágoas, coloca-se sempre na posição de vítima sofredora diante do mundo carrasco.
ANTÍDOTO: diga claramente a esse vampiro que você detesta lamentos porque queixumes não resolvem nenhum problema. Se ele insistir, faça menção a alguma solução radical como a eutanásia ou o suicídio (vampiro morre de medo de morrer). E caia fora.
Vampiro pegajoso
Investe contra as portas da sensualidade e da sexualidade da vítima. Aproxima-se como se quisesse lambê-la com os olhos, com as mãos, com a língua. Parece um polvo querendo envolver a presa com seus tentáculos. Se você não escapar rápido, ele irá sugar sua energia em qualquer uma duas possibilidade: seja conseguindo seduzi-lo com seu jogo pegajoso, seja provocando em você repulsa e náusea. Em ambos os casos você estará desestabilizado e ele beberá à vontade no seu reservatório de energia vital.
ANTÍDOTO: sem hesitação, corte logo a dele dizendo que você está com uma tremenda dor de barriga. Corra para o banheiro e fique lá trancado até o vampiro desaparecer.
Vampiro grilo falante
A porta de entrada que ele quer arrombar é o seu ouvido. Obriga suas vítimas a ouvi-lo horas seguidas. Dessa forma, mantém a atenção da vítima ocupada, enquanto suga sua energia vital. Em seu livro O Destino Criativo do Homem, a médica e clarividente turca Shafika Karagulla descreve uma cena horripilante dessa modalidade de vampirismo que teve chance de testemunhar, numa reunião social em Londres. Cheio de charme e inteligência, o vampiro, sentado diante de sua vítima, falava sem parar. A vítima o escutava embevecida, numa atitude completamente passiva diante daquela torrente de palavras sedutoras que chegavam a seus ouvidos. Abrindo sua clarividência, a doutora Karagulla pode ver o que realmente ocorria: como um tentáculo, um canal energético saíra da região do plexo solar do vampiro e se instalara diretamente no centro do plexo solar da vítima. Por esse canal, o vampiro sugava com avidez. Pouco a pouco, segundo a clarividente, o corpo sutil da vítima perdeu brilho e intensidade, ao mesmo tempo em que ela começou a empalidecer e a bocejar. Portanto, cuidado com os grilos falantes. Debaixo da aparente inocência de um falador aparentemente descontrolado pode se esconder um vampiro voraz.
ANTÍDOTO: diga que você está com uma tremenda dor de cabeça, levante-se e vá embora. Deixe o vampiro falando sozinho.
Vampiro hipocondríaco
Cada dia aparece com uma doença nova. É o seu jeito de chamar a atenção dos outros, despertando neles preocupação e cuidados. Se tem êxito em seu intento, deleita-se em descrever nos mínimos detalhes os sintomas dos seus males e todo o penar que está sofrendo. Quando termina o relatório, em geral está ótimo. E quem lhe deu ouvidos está péssimo.
ANTÍDOTO: Dê a ele o telefone do seu médico e vá embora.
Vampiro encrenqueiro
Para ele, o mundo é um campo de batalha onde as coisas só são resolvidas na base da tapa. Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, este vampiro não pretende intimidar sua vítima e abrir suas defesas instalando nela os sentimentos do medo e da insegurança. Ele quer provocar nela um estado raivoso, irado e agressivo. Provoca para que a vítima compre a briga, para que ela reaja. Esse é um dos métodos mais eficientes para desestabilizar a vítima e sugar dela toda a sua energia vital.
ANTÍDOTO: faça-se de doido e conte para o vampiro uma piada de papagaio. Se insistir na provocação, diga-lhe para deixar de ser tonto. Se insistir ainda, diga-lhe para ir socar a parede. Se não parar de insistir, ponha um Lexotan na bebida dele. E caia fora.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
:: Elisabeth Cavalcante ::
Todos aqueles que se iniciam no caminho do autoconhecimento e chegam à prática da meditação sabem que a mente é o principal obstáculo nesta jornada.
Rapidamente descobrem que quanto mais lutam para silenciá-la, mais forte a torrente de pensamentos se apresenta. Alguns mestres do Oriente costumam dizer que a mente é um cavalo selvagem, impossível de ser domado, pois, quanto mais tentamos ter domínio sobre ele, mais ele se rebela e foge de nosso controle. Como fazer, então, para conseguir que o fluxo de pensamentos silencie? A mente é especialista em truques, por essa razão precisamos recorrer ao mesmo método para fazer com que ela deixe de estar no comando. O segredo é parar de dar energia à mente, e isto só é possível quando mudamos o foco de nossa atenção. Ao invés de nos identificarmos com os pensamentos, emitindo julgamentos sobre eles, devemos assumir a postura do observador sentado à beira de uma estrada, olhando os automóveis que passam. Ele está ali, simplesmente, sem qualquer identificação com o que vê. Este exercício, quando praticado continuamente, fará com que os pensamentos se tornem cada vez mais escassos, até que desapareçam e fique em seu lugar apenas o silêncio, o vazio. É neste momento que uma nova dimensão de nosso ser começa a ser tocada, sem que seja necessário qualquer esforço ou luta. O relaxamento total e a ausência de expectativas e desejos é o segredo para que adentremos na dimensão da consciência. Aos poucos, este estado de paz se tornará cada vez mais constante e os insights intuitivos passarão a fazer parte de nosso cotidiano, algo natural, como sempre deveria ter sido. A única maneira de se libertar do sofrimento, é entender que a mente e o ego são aspectos de nossa natureza sobre os quais precisamos ter total domínio, e não o contrário. Mas isto só será possível se nos dispusermos a assumir a posição de mestres de nós mesmos, sem depender de mais ninguém. "...Seus pensamentos têm de compreender uma única coisa: que você não está interessado neles. No momento em que você tiver firmado isso, você terá alcançado uma grande vitória. Simplesmente observe. Não diga nada aos pensamentos. Não julgue. Não condene. Não os mande embora. Deixe-os fazer o que quer que estejam fazendo, qualquer ginástica - deixe-os fazerem; você simplesmente observa e desfruta. Trata-se de um belo filme. E você se surpreenderá: simplesmente observando, chega um momento em que os pensamentos não mais estarão presentes, não haverá nada para observar. Essa é a porta que tenho chamado de nada, de vazio. Por essa porta entra o seu ser verdadeiro, o mestre. E esse mestre é absolutamente positivo; em suas mãos, tudo se transforma em ouro. ...Assim, você não pode fazer nada diretamente com a mente. Você terá que dar umas voltinhas; primeiro você tem de trazer o mestre para dentro. Está faltando o mestre e, durante séculos, o serviçal pensou que ele era o mestre. Simplesmente, deixe o mestre entrar e o serviçal, imediatamente, compreenderá. Basta a presença do mestre e o serviçal cai aos pés do mestre e espera por alguma ordem, qualquer coisa que o mestre queira que seja feito - ele está pronto. A mente é um instrumento tremendamente poderoso. Nenhum computador é tão poderoso quanto a mente do homem - não pode ser, porque ele é feito pela mente do homem. Nada pode ser, porque tudo é feito pela mente humana. Uma única mente humana tem tão imensa capacidade: num pequeno crânio, um cérebro tão pequeno, pode conter todas as informações contidas em todas as bibliotecas da Terra - e essa informação não é tão pequena assim. ...Mas o resultado desse imenso presente ao homem não tem sido benéfico - porque o mestre está ausente e o serviçal está comandando o espetáculo. O resultado é guerras, violência, assassinatos, estupros. O homem está vivendo num pesadelo, e o único meio de sair disso é trazer o mestre para dentro. Ele está aí, você tem apenas de puxá-lo para si. E a observação é a chave: simplesmente observe a mente. No momento em que não houver nenhum pensamento, imediatamente, você será capaz de se ver - não enquanto mente, mas como algo além, algo transcendental à mente. E uma vez que você esteja sintonizado com o transcendental, então, a mente está em suas mãos. Ela pode ser imensamente criativa. Ela pode fazer, desta própria Terra, o Paraíso. Não há nenhuma necessidade de qualquer Paraíso a ser procurado lá em cima nas nuvens, assim como não há necessidade de se procurar por qualquer inferno - porque o inferno nós já o criamos. Estamos vivendo nele. ...As pessoas ainda continuam pensando que o inferno está em algum outro lugar, debaixo da Terra - e você está vivendo nele... Você pode transformar este inferno em céu se a sua mente puder estar sob a direção do mestre, de sua própria natureza. E trata-se de um processo simples... Mas não tente diretamente com a mente, caso contrário, você estará entrando numa encrenca. A pessoa pode até entrar na insanidade... Não toque na mente. Primeiramente, apenas descubra onde está o mestre... Deixe o mestre estar presente e a mente funciona como um serviçal, muito perfeitamente. No Oriente, nós fizemos isso. Gautama, O Buda, poderia ter-se tornado Albert Einstein sem nenhuma dificuldade; ele era um gênio muito maior. Mas toda a sua vida foi devotada à transformação das pessoas, para dentro da consciência, para dentro da compaixão, para dentro do amor, para dentro da bem-aventurança". OSHO - The Osho Upanishad. |
segunda-feira, 18 de junho de 2012
O SIMBOLISMO DA ÁGUA
Autor: Hugo Lapa (Atendimento com terapia de vidas passadas)
A água é uma substância formada pela combinação de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. A água é, portanto, formada por dois gases. Ela pode se apresentar no estado sólido, líquido e gasoso. O estado líquido, porém, é o mais abundante no mundo. A água é tão essencial a vida que, caso a água desaparecesse do planeta Terra, nenhum ser vivo poderia manter-se existindo.
A água era considerada um dos quatro elementos fundamentais no mundo antigo, dos quais tudo o que existe teria procedência. A importância da água pode ser verificada nas ideias do filósofo Tales de Mileto, que dizia que “tudo é água” e “tudo começa na água”. Tales inaugurou a tendência filosófica que buscavam entender a chamada physis, um conceito que significa natureza, mas que depois foi traduzida como “física”, por ser o conhecimento que buscava explicar a origem das coisas do mundo.
O simbolismo da água é bem vasto, assim como o simbolismo de todos os outros elementos. Na antiguidade, ela estava associada ao começo do mundo. Em Gênesis, “o espírito de Deus pairava por sobre as águas” (GN 1:2). Ela era considerada as águas primordiais, de onde tudo surgiu. Ela também foi associada ao caos primordial, o meio líquido que originou todas as coisas. Esse simbolismo das águas primordiais, ou do “oceano das origens” é praticamente universal, sendo encontrado em dezenas de culturas arcaicas.
O aspecto gerador da água encontra correspondência no útero materno, quando um novo ser está em gestação. Nesse sentido, encontramos o líquido amniótico, que é o meio líquido que abriga o surgimento de uma nova vida, um novo nascimento.
Na mitologia egípcia, o monte primordial surgiu das águas primordiais. Na tradição indiana, a água é o veículo do chamado “ovo do mundo”, o meio que gerou todo o mundo. De acordo com este significado, a água representa o meio através do qual todas as coisas surgiram. Ela foi, dessa forma, uma matéria prima para a criação do mundo, ou pelo menos um dos meios pelos quais o mundo pôde ser gerado. Nesse sentido, a água se apresenta como a fonte de onde tudo proveio, o embrião original.
De acordo com Chevalier & Gheerbrant, a água é o símbolo da infinitude dos possíveis, ou seja, ela é o potencial que guarda, em estado latente, todas as possibilidades. Os textos hindus clássicos afirmam que “tudo era água” no início, indicando a água como a matéria-prima original. Aqui a água simboliza um inesgotável reservatório de energia primeva de onde tudo brotou. A ciência moderna considera que a vida na Terra começou primeiro na água, com o desenvolvimento dos primeiros seres aquáticos que posteriormente foram deixando os mares e iniciando sua existência na terra e no ar. Assim, o simbolismo da água com o significado do germe da vida encontra eco nas pesquisas científicas.
A água primordial, no entanto, não é a água física, mas um elemento sutil sem início nem fim. Os textos hindus deixam claro que, para que exista esse potencial formativo, é preciso não haver limites. Por isso, diz-se no Taoísmo que “as vastas águas não tinham margens”. Ainda dentro desse sentido gerador, a água representa a fertilidade, a fecundidade, a boa colheita, o crescimento da semeadura.
Diferentemente da terra e do ar, o fogo e a água são considerados agentes de transformação do mundo. Nesse sentido, a água possui uma estreita relação com o simbolismo da lua, que muda constante e periodicamente. Diz-se que as marés obedecem as fases da lua. No Tarot, a carta da lua aparece com uma poça de água no solo, indicando a associação que há entre ambas. A água é maleável, pode se adaptar a qualquer meio sólido, tomando a forma do lugar em que se encontre. Por isso se diz que ela seja um agente se transformação e adaptação ao novo.
Mesmo sendo a água fraca, maleável, fluida, ela pode, com o passar do tempo, até mesmo desgastar a rocha mais rígida, que não sabe ceder e permanece fixa e imóvel em seu lugar. Lao Tsé expressa divinamente o significado da água dentro de sua capacidade adaptativa e como isso pode servir de lição ao ser humano:
“A virtude verdadeira é como a água
Em silêncio se adapta, ao nível inferior
Que os homens desprezam
Ocupa os lugares mais baixos que os homens detestam.
Acomoda-se onde ninguém quer permanecer.
Serve a todos e a tudo, não exige nada.”
Mas o simbolismo da água encontra mais um significado que é praticamente universal: a água como um meio de regeneração. Essa representação é bem conhecida na passagem bíblica que cita o batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista. Não por acaso esse evento é reconhecido como o início do caminho messiânico de Jesus. João Batista acatou o apelo de Jesus para que o batizasse nas águas, mesmo acreditando que não era digno de batizar Jesus. Após a imersão na água, os evangelhos contam que uma pomba branca sobrevoou os céus, representando assim a liberdade do espírito conquistada após o ato. Nesse momento, Jesus teria sido regenerado em corpo, emoções e mente, e aberto as portas de sua consciência para sua missão. Aqui está bem caracterizado o simbolismo da água como meio de regeneração, ela cura, purifica e faz renascer.
Como diz Chevalier: “A imersão [na água] é regeneradora, opera um renascimento, por ser ela, ao mesmo tempo, morte e vida. A água apaga a história, pois restabelece o ser num novo estado. A imersão é comparável à deposição do Cristo no Santo Sepulcro: ele ressucita, depois dessa descida nas entranhas da terra. A água é símbolo da regeneração: a água batismal conduz explicitamente a um novo nascimento”. Aqui vemos a representação da água viva, da fonte da juventude.
A água também se expressa no seu ciclo universal. Ela vive nas entranhas da terra, brota para rios e lagoas e desemboca no mar. A água se liquefaz e se torna vapor. Sobe aos céus, se condensa em nuvens. As nuvens se agrupam e formam a nuvem de chuva, que se precipitam sobre o solo jorrando a água de volta à terra novamente em estado líquido. E posteriormente isso se repete infinitamente. Na descrição do ciclo da água vemos uma representação bastante clara do próprio ciclo da alma. A alma estava no mundo celeste, ao que se precipita e desce à Terra, para animar a matéria sólida. Ao término de sua missão, retoma o estado “gasoso” quando abandona o corpo e se assume novamente como espírito em ascensão aos céus. Vemos uma boa figuração da doutrina da reencarnação da alma expressa pelo ciclo das águas.
domingo, 17 de junho de 2012
Autor: Hugo Lapa (Atendimento com terapia de vidas passadas)
Desde muito tempo, podemos mesmo dizer vários milênios, a humanidade convive com um conhecimento esoterico reservado a um número seleto de indivíduos. Esse conhecimento é considerado sigiloso, secreto ou proibido às massas. A maioria das pessoas encontrar-se-ia ainda distante desse conhecimento. As organizações esotéricas ou iniciáticas sempre consideraram o segredo como algo de extrema importância; uma importância vital e essencial e obrigam discípulos a prestar votos solenes de sigilo do que veem nos templos ou na instrução direta da relação guru-discípulo.
Esse conhecimento foi denominado por vários nomes ao longo da história e sua existência é comum a praticamente todas as culturas antigas e modernas. Até mesmo a ciência atual se vale do sigilo em muitas circunstâncias, atualmente em pesquisas armamentistas, como tecnologias de destruição em massa, como a bomba atômica. Não há dúvida de que esse tipo de conhecimento deveria ser reservado apenas a pessoas de moral elevada; pessoas de bem e sem qualquer intenção de provocar estragos a grupos humanos, países ou a humanidade em geral.
Muitas pessoas que ficam sabendo desse conhecimento secreto têm muitas dúvidas do porquê de sua existência; algumas chegam mesmo a desejar adquirir esse saber, pois algo muito profundo deve estar escondido aí. Outras pessoas chegam mesmo a atacar os portadores dos “mistérios”, taxando todos eles de charlatões, embusteiros e gananciosos. Chega-se a acreditar que os iniciados nos mistérios formariam uma classe superior em nossa sociedade e usariam de artíficios políticos e ideológicos para esconder certas verdades das massas, tendo como único objetivo a preservação de sua condição de superioridade, possivelmente conferida pelos conhecimentos ocultos.
Por outro lado, os iniciados afirmam que o objetivo do sigilo não é a criação de uma elite, uma classe detentora de poder suficiente para dominar uma parte do mundo ou quase a sua totalidade. Muitos ocultistas defendem o sigilo como algo imprescindível no esoterismo e procuram justificar esses motivos de várias formas. Outros ainda afirmam que o mistério não é algo intencional, mas faz parte da própria realidade de uma sabedoria mais profunda. Em outras palavras, só existe o conhecimento oculto porque, dizem alguns iniciados, as pessoas comuns são incapazes de percebe-los. Caso possuíssem capacidades psíquicas desenvolvidas; caso sua moral fosse refinada; caso sua consciência fosse elevada; caso sua intenção fosse pura e cristalina, qualquer indivíduo teria acesso à sabedoria que jaz oculta no coração do cosmos. Assim, não há uma ocultação de conhecimentos especiais, há uma inabilidade de se percebe-los e compreende-los.
Dizem os iniciados que tudo está plenamente revelado. Um dos maiores iniciados que passou pela Terra, Jesus, o Cristo, disse isso em palavras extremamente simples e mesmo assim só pôde ser compreendido por poucos indivíduos. Jesus disse que sua mensagem era destinada àqueles que tinham “olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Com essa frase, Jesus deixa claro que o conteúdo dos seus ensinamentos não poderia ser compreendido por todas as pessoas, mas apenas aquelas que tivessem uma visão das coisas e uma capacidade de escuta mais profunda da vida. Há outra passagem onde Jesus faz uma referência mais explícita ao saber arcano. Diz ele aos seus discípulos: “A vós vos é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros apenas é dado conhecer por parábolas, para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam”. Fica claro nessa passagem que existiam duas formas de ensinar: uma aberta e pública, que qualquer pessoa poderia ouvir, ver e compreender. E outra mais restrita, onde apenas algumas pessoas seriam capazes de vislumbrar além do superficial e do aparente.
Nesta oportunidade vamos enumerar alguns dos principais motivos do sigilo, para que fique claro à maioria das pessoas que não são versadas em esoterismo e ocultismo:
1 – A primeira razão mais forte, já nos adiantamos nesse texto, é a clara noção de que o iniciado oculta o conhecimento pelo simples motivo de que o não-iniciado não poderia compreende-lo. De que adiantaria para um físico debater mecânica quântica com uma pessoa que nunca estudou qualquer noção básica de física? Para que possa existir algum entendimento a esse respeito, o iniciado deve modificar sua linguagem e adaptar certos conceitos dentro da realidade do leigo, transmitindo-o de modo que possa ser visualizado em parte através de meios não-técnicos. Assim, é importante enfatizar que o conhecimento é sempre transmitido de alguma forma, mas sempre de um modo acessível ao grau de consciência de cada indivíduo. Por este motivo, encontramos o saber oculto escondido em símbolos, alegorias, parábolas, mitos, contos de fadas, dentre outros. Jesus enfatizou a necessidade de se expressar em parábolas, pois essa era uma maneira de ser compreendido por todos. Como sua mensagem deveria ser universal, revestiu-se de um caráter simbólico, para que qualquer um pudesse ter acesso a ela, apesar de não conseguir entende-la prontamente, mas possivelmente após uma mais ampla reflexão. O mesmo ocorre quando um adulto se expressa para uma criança, principalmente ao falar de assuntos mais profundos. O universo psicológico infantil é rico em símbolos, as crianças soltam facilmente a sua imaginação e por isso, muitas vezes, entendem as coisas de uma forma diferente da forma do adulto. Por este motivo, os símbolos são o veículo que o iniciado se vale para transmitir algo que, por outros meios, seria muito difícil de assimilar. Assim, há um texto indiano que resume bem essa ideia: “Naquele tempo, Brama o senhor anunciou: A doutrina que vou revelar excede em muito as possibilidades de um espírito comum; segredo dos segredos, ela não deve ser divulgada, mas reservada ao homem de bem que, fechado para a ilusão do mundo, apenas deseja entende-la.”
2 – Outro motivo claro do sigilo é a possibilidade do não-iniciado distorcer o conhecimento revelado. Como o leigo tem pouca clareza, não possui o devido preparo e o conhecimento adequado, ele fatalmente iria distorcer e adulterar aquilo que aprendeu. O mesmo processo pode ser facilmente percebido na sociedade humana. Ensine a uma pessoa não versada em filosofia os conceitos mais profundos do platonismo. Inevitavelmente e sem qualquer intenção de faze-lo, há imensa probabilidade dos conceitos serem distorcidos, posto que, para apreender o sentido mais central e nuclear, é necessário conhecer um contexto maior, que só pode ser conquistado através de uma leitura mais apurada, algo que o leigo não possui. Dessa forma, caso o não-iniciado fosse passar o saber recebido a outra pessoa, inevitavelmente iria distorce-lo, ensinando de uma forma equivocada aquilo que recebeu.
3 – Mesmo que o conhecimento fosse revelado ao espírito comum, nenhum proveito ele poderia tirar disso, já que lhe carecem os meios de, em primeiro lugar, compreende-lo, e em segundo lugar, utiliza-lo de forma útil e proveitosa. Dessa forma, nenhum utilidade teria um conhecimento que não pode ser usado para um objetivo maior. Seria mero conhecimento ou cultura inútil, algo vazio de significado, uso e função.
4 – Revelar um conhecimento secreto a um homem superficial poderia ser perigoso para ele e para os outros. Há muitos conhecimentos que, caindo em mãos erradas, de aproveitadores e charlatães, poderiam causar estragos nas pessoas que dele fazem um emprego indevido. Por analogia, o conhecimento da fabricação da bomba atômica seria algo terrível nas mãos de terroristas. Todo poder outorgado à pessoas que não sabem usa-lo ou que desejam alguma vantagem pode ser extremamente arriscado e comprometedor. Ninguém duvida do estrago que um revólver poderia fazer nas mãos de um maníaco ou um psicopata, ou mesmo um carro que corre a 200 km por hora nas mãos de um motorista amador. Quanto maior o poder, mais apta a pessoa deve estar para fazer o uso correto daquilo que possui. Pierre Riffard diz: “A água afoga quem não sabe nadar e transporta quem sabe”. Um homem comum, recepcionando um conhecimento e uma técnica muito além de suas capacidades de penetração e dos efeitos que isso poderia gerar, pode arruinar sua vida, colocar em xeque sua integridade física e mental, além de levar outros com ele. Sabendo-se que o instrução arcana gera incrível poder, é necessário oculta-la de pessoas orgulhosas, arrogantes, que buscam apenas seus interesses pessoais e egoístas. O sábio Ibn Arabi diz: “Esse tipo de conhecimento espiritual deve ser encoberto para a maioria dos homens, devido a sua sublimidade. Por que essas profundezas são difíceis de atingir e os perigos são grandes”.
5 – Uma outra razão do sigilo seria a possibilidade de uma pessoa alheia ao círculo interno causar certa perturbação aos iniciados, ou mesmo ataca-los, critica-los e agredi-los de várias formas. Assistimos com pesar a esse tipo de investida contra a sabedoria esotérica em grandes proporções na Idade Média. Tudo o que entrasse em contradição com as regras pré-estabelecidas deveria ser banido de pronto. Obviamente nos dias de hoje felizmente tudo está mais flexível e por esse motivo, muito do que antes era oculto, agora começa a ser descortinado e ensinado abertamente. Os iniciados desejam ardentemente que a sabedoria arcana seja revelada o mais amplamente possível, mas isso só pode ser realizado no momento certo, quando existir um terreno fértil para que as sementes plantadas possam germinar livremente. Semear em terrenos secos e pobres em nutrientes nada poderá trazer de produtivo. Por isso, conhecimentos avançados podem ofuscar o homem comum. Clarificando sua consciência, ele pode não gostar de encarar seus limites e ver a verdade. Assim, pode se tornar agressivo por ter seu interior desnudado e agir contra aqueles que o tentaram ajudar mostrando-lhe sua própria realidade. Não vemos esse tipo de comportamento distribuido abundamente em todos os setores da vida humana? A luz pode ofuscar as trevas e as trevas podem reagir em forte oposição. Jesus fala abertamente sobre isso “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e voltando-se contra vós, vos despedassem” (Matheus 7,6).
6 – Uma razão muito importante do sigilo é o valor da preparação que se deve dispensar à conquista da sabedoria. Os místicos e iniciados permanecem anos, décadas e mesmo várias existências corpóreas preparando-se para avançar em consciência e rrecepcionar uma sabedoria mais profunda dos mistérios da vida. É como um estudante que estuda horas diárias a matéria de uma prova que o habilitá para o ingresso numa universidade, onde obterá conhecimentos mais avançados. Diz Pierre Riffard: “A disciplina do arcano representa um exercício espiritual, uma prova iniciática.” Assim, muitas Ordens tradicionais e escolas de mistério possuem um sistema de graus de estudo e prática. Uma pessoa que se encontre no segundo grau e pule para o décimo grau, não terá a devida preparação e tampouco o entendimento para receber os ensinamentos concernentes ao grau mais adiantado. É necessário bastante tempo de estudo e prática, geralmente em forma de exercícios psicoespirituais, práticas de meditação e muitas outras formas de experimentação, tal como a transmutação do nosso karma. Toda essa preparação vai aos poucos refinando a consciência do praticante, tornando-a mais sensível ao ensinamento sutil, fazendo com que novas e profundas verdades, que antes passavam despercebidas, agora sejam panoramicamente vislumbradas. As Ordens Iniciáticas não procuram descrever a verdade para seus discipulos, elas ensinam que a verdade, enquanto verdade, é intransmissível pela via intelectual: apenas um saber direto pode ser eficaz. Por isso, as organizações e confrarias não conduzem seus alunos ao final da estrada, e evitam mencionar com detalhes o que será encontrado. Antes de tudo, os mestres dessas Ordens apontam o caminho que o discípulo deve percorrer e informam sobre os melhores meios para segui-lo. Assim, o conhecimento arcano é como um caminho, ele não representa um fim em si mesmo, mas uma passagem para algo além; algo que pode apenas ser apreciado pelo próprio individuo.
sexta-feira, 25 de maio de 2012
O Que Quase Todos Somos e o Que Podemos Ser
Autor: Arthur Buchsbaum[1]
A busca é um estado, não um caminho...
Quase todos nós temos opiniões, ou acreditamos tê-las, mas, essencialmente, não as temos, simplesmente porque quase nunca as mesmas vieram, dentro de nós, como um produto de elaborada reflexão, mas sim como uma repetição de idéias vindas de outrem.
Todo ser humano nasce dentro de uma dada comunidade, com todas as suas idiossincrasias específicas, com sua etnia ou etnias predominantes, seu corpo de idéias de origem religiosa, seus valores morais, e seus hábitos em geral. Após chegar à idade adulta, e por toda a sua breve vida, este ser humano irá preservar, em geral, quase todas estas idiossincrasias, continuará adotando as mesmas crenças religiosas, os mesmos valores morais e os mesmos hábitos que adquiriu ao longo de sua infância e adolescência através de sua comunidade de origem. Na melhor das hipóteses, se tiver o privilégio de freqüentar uma universidade ou alguma instituição afim, terá alguns arremedos de reflexão, fará algumas superficiais elucubrações "filosóficas", mas a sua idiossincrasia ideológica, adquirida no começo de sua vida, ficará quase intacta.
Poderá “filosofar”, assim como as crianças brincam com joguinhos de montagem, combinará certas idéias pré-fabricadas e poderá montá-las, dentro de resultados previamente determinados pelos seus fabricantes.
Na verdade a vida de cada ser humano já está previamente programada desde o seu nascimento. Quais serão as suas opiniões, os seus hábitos, as suas respostas diante de determinados estímulos, as suas “opiniões”, as suas crenças, inclusive as de origem religiosa. A sua eventual rebeldia. Se não irá se casar, ou com quem se casará. Como será pai ou mãe. Que tipo de família irá constituir, ou se permanecerá sozinho. As suas atitudes morais. A sua atitude política. Os seus arremedos “filosóficos”.
Poucos, muito poucos, conseguem romper esta forte crisálida, e tornarem-se verdadeiros homens ou mulheres, enfim verdadeiros filósofos. Bem poucos deixam de ser “pinóquios” ou “pinóquias”, isto é, homens e mulheres de mentira, e conseguem tornarem-se verdadeiros seres humanos, isto é, aqueles capazes de exercer reflexão própria.
Existem muitos “filósofos”, bem como professores de “filosofia” com habilidades intelectuais e loquacidade, capazes de escrever “bons” artigos e até livros, mas que ainda não conseguiram superar a essencial mentira que constitui as suas breves vidas, pois não possuem, além dos seus hábeis arremedos, algo que possa ser considerado reflexão genuína. Agem essencialmente segundo o senso comum da maioria, conforme o condicionamento adquirido comum a todos os seus colegas “pinóquios” e “pinóquias”.
Se tal “filósofo” for brasileiro, ele(a) geralmente apreciará torcer pelos seus timinhos de futebol, irá a barzinhos onde poderá excitar as suas emoções com shows musicais, e onde poderá degustar os seus alcoólicos drinques. Terá as mesmas opiniões políticas da maioria, mas certamente enfeitadas com a sua intelectual loquacidade, adquirida em seus anos de “superior” educação. Eventualmente irá buscar outras formas de excitação com mulatas(os) e escolas de samba. Será o maior prazer que poderá gozar em suas falsas vidas, a eventual excitação de suas emoções, de seu sexo, ou até de seu intelectozinho. Tal excitação irá encobrir a sua sempre presente pobreza de espírito, a mentira em que se tornou sua vida. Pois jamais conseguiu conhecer a si mesmo(a), embora possa até ter lecionado as idéias de Sócrates e Platão, em suas “bem” elaboradas aulas. Jamais soube o que é realmente a sua alma. Limitou toda a sua vida a imitar o que aprendeu desde criança, eventualmente enfeitando isto com os seus arremedos intelectuais e sua loquacidade. Poderá emitir opiniões acreditando serem as suas próprias; quanto maior for a sua loquacidade, melhor será o embuste.
Quase ninguém o sabe, mas todos nós somos essencialmente robôs, somos “pinóquios” e “pinóquias”, bonequinhos de corda que cumprem zelosamente a programação que recebemos da sociedade circundante ao longo de nossas infâncias e adolescências. Até eventuais formas de rebeldia estão incluídas nesta quase sempre sutil programação, pois tanto a adesão como a rebeldia são duas faces da mesma moeda, ambas são movimentos condicionados, e, portanto, não livres.
A Verdade só pode ser alcançada pela Liberdade, pela emancipação de todas as idéias e hábitos adquiridos sem reflexão. A Liberdade só pode ser atingida pela superação de toda alienação, de toda cegueira. Todo este entulho, todas estas falsas idéias, só pode ser removido pelo verdadeiro espírito científico, pelo inabalável compromisso com a Verdade, pela férrea determinação de trespassar todo o condicionamento. Pelo questionamento, pela indagação de quem verdadeiramente ele ou ela é. Pelo desprender-se de todas as ilusões, por mais bonitas que as mesmas possam ser. Pelo conhecimento de si próprio.
Uma possível ferramenta para sermos capazes de superar todo o condicionamento limitante, para adquirirmos uma capacidade de reflexão aguda e forte, para desenvolvermos em nós o espírito científico, está no estudo da Lógica, especialmente da Lógica Formal. O espírito científico é necessário para a libertação, mas não é suficiente, pois só uma inabalável vontade, uma conscientização da mentira de todo condicionamento, um autêntico espírito religioso, é que pode dar a nós a força motriz inicial para esta jornada sem fim que é a descoberta da Verdade.
O espírito religioso é a vontade inabalável de alcançar a essência de tudo, e o espírito científico é o discernimento, a capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso. O primeiro pode conter o segundo, mas a recíproca não é verdadeira.
Autor: Arthur Buchsbaum
email: arthurrovabu-pub@yahoo.com.br
Veja mais detalhes sobre o autor nas notas abaixo.
Notas:
[1] O autor é professor universitário, e suas áreas de interesse abrangem Matemática, Lógica, Filosofia e Teosofia, entre outros assuntos.
O CÍRCULO MÁGICO
“Quem quer colher rosas
deve suportar os espinhos."
Provérbio Chinês
Autor: José Laércio do Egito
Em quase todas as tradições mágicas, traçar o círculo é uma das primeiras tarefas que se deve aprender.
Traçar o círculo precede qualquer ritual mágico, consiste em um meio de estabelecer uma ponte entre o mundo físico e o mundo dos deuses, entre o visível e o invisível, de facilitar a conexão com outros planos. Tem por objetivo manter a energia coesa evitando que forças espúrias perturbem de alguma forma o ritual e os participantes.
O Círculo também é o melhor meio de preservar e conter a energia criada durante um ritual, por isso é imprescindível em qualquer prática ritualística. Ele pode ser estabelecido em qualquer lugar, em especial onde algum ritual, ou celebração vai ser realizada, em reuniões de pessoas, ou mesmo individualmente; no exterior ou no interior da casa, em especial em torno no quarto de dormir, em volta da cama. Importante que à noite seja feito em torno da cama do casal (evita a ação dos sugadores de energia), e do leito das crianças.
Toda a área que for escolhida para algum procedimento mágico deve ser limpo, consagrado, e delimitado, neste caso pela efetivação de um círculo mágico, que compreende o primeiro passo para uma cerimônia mágica.
O Círculo mágico tem 2 funções básicas:
Proteção contra influências hostis, distrações externas, e das influências psíquicas.
Contenção e fortalecimento as energias “criadas” e invocadas no ritual.O círculo mágico – círculo de poder – tem a função não deixar que energias contrárias perturbem, ou causem algum problema no decorrer de um ritual. Ele define o espaço do ritual; o perímetro do círculo que marca a delimitação onde a atenção é focalizada. A função protetora do círculo é criar um espaço sagrado para os participantes especialmente os que estejam com algum distúrbio energético. O círculo mágico está posicionado entre os mundos da realidade concreta e o mundo dos Deuses. Dentro dele o Bruxo fica além de tempo, limite, e espaço.
Uma das finalidades do circulo mágico – também chamado de círculo de poder – visa fortalecer, intensificar a ação das energias, assim como reter modelos energéticos criados e invocados no ritual, e ainda mais, defender os presentes de influências hostis.
O círculo mágico posiciona os integrantes entre o mundo da realidade concerta e o mundo mágico, mundo dos deuses. É um meio de defesa contra entidades tenebrosas, habitantes dos palácios da impureza, seres sugadores (vampiros energéticos), pois quando é traçado e fechado não pode ser rompido e nem transposto por nenhuma não física.
O emprego do circulo mágico não se restringe a ambientes ritualísticos, podem ser de grande utilidade em muitos lugares, por exemplo, em torno do quarto de dormir, ou do leito, toda noite antes, como meio de proteção astral, e em qualquer lugar de meditação, concentração, etc. Com ele evita-se influencias negativas de seres espúrios. Pode ser feito ao redor da cama e mesmo ao redor do quarto,
Nos rituais mágicos precisamos do “circulo de poder” para garantir nossa proteção durante nossos rituais, pois, quando ele feito, nada pode os atacar, além do mais, nada sai e nada entra nele.
O circulo mágico pela forma circular não tem começo e nem fim; deve ser visualizado no momento de sua abertura, como uma espécie de bolha que penetra no solo e vai até o alto, acima da cabeça. A energia ficará contida dentro dele cuja presença poderá ser facilmente constatada. Conforme o grau de sensibilidade pessoal, pode ser vista uma cetra coloração, algo tremeluzindo, ou mesmo certa temperatura dentro dele.
Sempre é dentro do circulo que devem ser procedidas às cerimônias ritualísticas, por ser um lugar sagrado e defendido energeticamente.
O Iniciado tem como sua melhor arma o Círculo mágico, que em todo momento ele vive construindo, pela sua imensa utilidade não apenas em rituais, mas em vários momentos. Quando a pessoa se sente ameaçada, a sua primeira iniciativa deve ser a de construir um circulo e se posicionar dentro dele (neste caso por razões óbvias deve ser elaborado mentalmente). A razão é pela impraticidade de ser laborado fisicamente em muitos lugares e algumas vezes sucessivamente se a ameaça estiver se deslocando. O “mago” constrói mentalmente e se visualiza deslocando-se conjuntamente com o circulo.
Quando se viaja é sempre bom construir um circulo mágico envolvendo o veiculo, isso pode evitar muitos imprevistos e se acontecer às pessoas já estão devidamente sob a proteção contra seres indesejáveis. Também de grande significação é construí-lo em volta de uma pessoa muito doente, pois isso afasta os “vampiros energéticos”. Também quando vai ser efetuada uma cirurgia, ou qualquer procedimento que envolva sangue. Há dele em torno do leito de morte, por ser um momento em que a pessoa está quase totalmente indefesa contra ataques energéticos promovido por sugadores de energia.
Assim que o óbito é constatado a primeira iniciativa deve ser elaborar o circulo mágico, se ele ainda não houver sido feito. Assim se evita a invasão de “sugadores de energia” que tentam sugar para si a energia vital emanada. O não iniciado se entrega a lamentações, vezes ao desespero, e muitas manifestações histéricas. Mas o Iniciado não age assim porque ele sabe que não tais exteriorizações sentimentais não defendem contra vampiros energéticos, e nem trazem a vida de volta, portanto para nada serve, a não ser para descarregar a tensão retida. Assim sendo, em vez de lamentações histéricas, é muito mais efetivo por em execução alguns procedimentos mágicos, entres eles a constituição de um circulo mágico protetor.
Na ritualística cristã, os momentos finais da pessoa, e até o seu sepultamente usam-se velas (elemento fogo), mas o mago sabiamente com discreção faz uso não apenas do elemento fogo, mas discretamente também dos demais. Para isso ele pode usar uma vasilha com água, para o elemento água. Se por algum motivo for inconveniente a presença de um recipiente com água, esta pode se fazer presente numa gota em uma pétala de flor, numa esponja, ou algo assim. O ar pode ser assinalado com a fumaça de um incenso (incenso por ele mesmo já encerra o elementos fogo e a fumaça – ar – além da vibração positiva que ele pode imprimir ao ambiente). Se houver indagações do porquê do incenso diga que é para perfumar o ambiente na eventualidade da exalação de algum odor desagradável. Na verdade isso é verdade, porque a par do ladgo vibratório ele perfuma o ambiente. Para o elemento terra é fácil no ambiente se colocar uma pedra sob algum pretexto, ou mesmo colocar um pequeno cristal discretamente em torno da cabeça. Um minúsculo cristal passa totalmente despercebido.
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Recolhimento Sagrado Feminino
“O ciclo feminino é como a teia da vida e seu sangue está para seu corpo
assim como a água está para a Terra."
“O ciclo feminino é como a teia da vida e seu sangue está para seu corpo
assim como a água está para a Terra."
Autora: Tatiana Menkaiká[1]
Observando os ciclos de nosso corpo, entramos em sintonia com o corpo maior e organismo vivo e pulsante que é a Mãe Terra.
Nós, mulheres, carregamos em nosso corpo todas as Luas, todos os ciclos, o poder do renascimento e da morte.
Aprendemos com nossas ancestrais que temos nosso tempo de contemplação interior quando, como a Lua Nova, nos recolhemos em busca de nossos sonhos e sentimentos mais profundos. As emoções, o corpo, a natureza são alterados conforme a Lua.
Nas tradições antigas, o Tempo da Lua era o momento em que a mulher não estava apta a conceber, era um período de descanço, onde se recolhiam de seus afazeres cotidianos para poderem se renovar. "É o tempo sagrado da mulher", o período menstrual, conforme nos conta Jamie Sams, "durante o qual ela é honrada como sendo a Mãe da Energia Criativa". O ciclo feminino é como a teia da vida e seu sangue está para seu corpo assim como a água está para a Terra. A mulher, através dos tempos, é o símbolo da abundância, fertilidade e nutrição. Ela é a tecelã, é a sonhadora.
Nas tradições nativas norte-americanas há as "Tendas Negras", ou "Tendas da Lua", momento em que as mulheres da tribo recolhem-se em seu período menstrual. É o momento do recolhimento sagrado de comtemplação onde honram os dons recebidos, compartem visões, sonhos, sentimentos, conectam-se com suas ancestrais e sábias da tribo. São elas que sonham por toda a tribo, devido ao poder visionário despertado nesse período. O negro é a cor relacionada à mulher na Roda da Cura. Também são recebidas nas tendas as meninas em seu primeiro ciclo menstrual para que conheçam o significado de ser mulher. Esse recolhimento não é observado somente entre as nativas norte-americanas, mas também entre várias outras culturas.
Diversos ritos de passagem marcam a vida de meninas nativas no seu primeiro ciclo menstrual. Entre os Juruna, quando a Lua Nova aponta no céu, é momento de as meninas se recolherem para suas casas. As meninas kanamari, do Amazonas, também ficam reclusas enquanto dura seu primeiro sangramento, sendo alimentadas somente pela mãe. Assim ocorrem com as meninas tukúna que nesse período de reclusão aprendem os afazeres e a essência do que é ser uma mulher adulta. Observa-se, em alguns casos, como parte do rito, cortar o cabelo e pintar o corpo de negro. São ritos de honra à mulher, e não o afastamento das mesmas pela impureza, como foi mal-interpretado por muitas outras culturas, principalmente a nossa ocidental extremamente influenciada pelos valores cristãos.
Nossos corpos mudam nesse período, fluem nossas emoções e estamos mais abertas a compartilhar com outras mulheres, como uma conexão fraternal. Ao observarmos nossos ciclos em relação à Lua , veremos que a maioria das mulheres que não adotam métodos artificiais de contracepção e que fluem integradas ao ciclo lunar, têm seu Tempo de Lua durante a Lua Nova. É importante observarmos como fluímos com a energia da Lua e seus ciclos, e em que período do ciclo lunar menstruamos. A menstruação é um chamado do nosso corpo ao recolhimento, assim como a Lua Nova é um período de introspecção, propício ao retiro e à reflexão. A Lua Cheia proporciona expansão e, se nossos corpos estão em sintonia com as energias naturais, é o período em que estaremos férteis.
Quantas mulheres atualmente deixaram de observar os ciclos do próprio corpo? Quantas deixaram de conectar-se com as forças da natureza, deixaram de lado a riqueza desse período de introspecção, recolhimento e contemplação de si mesmas? No nosso Tempo de Lua sonhamos mais, estamos mais abertas à sabedoria que carregamos de nossas ancestrais. Aproveite esse período para conhecer e explorar seu interior, agradecendo os dons e habilidades que possui. Compartilhe com outras mulheres esses momentos sagrados de respeito e fraternidade. Ouse sonhar e exercer seu lado visionária. Note que ao estar em conexão com todas as mulheres e com a própria Mãe Terra, muitos sintomas tidos como incômodos vão desaparecendo. Muitos destes sintomas são a rejeição desse período. Com a competição resultante dos valores da sociedade moderna, muitas de nós esqueceram de ouvir a si mesmas, de sentir a necessidade de seus próprios corpos e corações.
Para finalizar, segue um trecho sobre a Tenda da Lua, de Jamie Sams, falando-nos sobre a importância desse ciclo de religação com a Terra e a Lua:
"O verdadeiro sentido dessa conexão ficou perdido em nosso mundo moderno. Na minha opinião, muitos dos problemas que as mulheres enfrentam, relacionados aos órgãos sexuais, poderiam ser aliviados se elas voltassem a respeitar a necessidade de retiro e de religação com a sua verdadeira Mãe e Avó, que vêm a ser respectivamente a Terra e a Lua. As mulheres honram o seu Caminho Sagrado quando se dão conta do conhecimento intuitivo inerente a sua natureza receptiva. Ao confiar nos ciclos dos seus corpos e permitir que as sensações venham à tona dentro deles, as mulheres vêm sendo videntes e oráculos de suas tribos há séculos. As mulheres precisam aprender a amar, compreender, e, desta forma, curar umas às outras. Cada uma delas pode penetrar no silêncio do próprio coração para que lhe seja revelada a beleza do recolhimento e da receptividade".
Publicado na Revista Viva Melhor, especial sobre Xamanismo.
Autora: Tatiana Menkaiká
Site da autora: http://www.xamanismo.org
domingo, 6 de maio de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
TERRA NOSSA CASA
Hoje é o Dia da Terra. Não custa nada cuidar melhor dela!
Olhe bem para essa Bolinha Azul. De longe, é uma esfera azulada, pincelada de branco. De perto, é nossa casa, o local onde respiramos e passamos toda nossa vida. Suspensa no espaço, desde o começo dos tempos ela gira. A cada volta ela se transforma. Olhe bem para essa Bolinha Azul, porque hoje é dia dela!
Se fosse possível sair da Terra, veríamos essa bela imagem. Tudo que temos e amamos está ali. Nossas músicas prediletas, nossos amigos, aquela praia maravilhosa, aquele sorriso simples, os brinquedos no parque, os amores que temos e os que já se foram. Tudo, absolutamente tudo está nessa Bolinha Azul.
Ultimamente, não temos cuidado muito bem dela. Temos sido muito egoístas achando que a Bolinha aguenta todos os nossos desaforos e nossa ganância.
Em nome do progresso, desmatamos as florestas e poluímos os rios. E em nome da comodidade produzimos quantidades astronômicas de lixo que não temos mais onde colocar. Ironicamente, em nome de uma suposta "qualidade de vida" estamos imersos na poluição. E a Bolinha Azul aguentando nossos desmandos.
Hoje é o Dia da Terra e apesar de ser uma data simbólica, bem que podíamos fazer um esforcinho e cuidar um pouquinho mais dela. Atitudes pequenas como não jogar papel na rua, diminuir o uso do carro ou apagar as luzes ao sair da sala podem parecer pequenas, mas se cada um de nós fizer essa gentileza, a Bolinha Azul continuará girando saudável, pronta para guardar os melhores momentos da nossa vida. Não custa tentar. Experimente!
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SUPER LEGAL ISSO
saúde & bem
Como a idade faz nosso cérebro florescer
A ciência conseguiu identificar a base neurológica da sabedoria. A partir da meia-idade as pessoas podem até esquecer nomes, mas tornam-se – acredite – mais inteligentes
MARCELA BUSCATO. COM BRUNO SEGADILHA E TERESA PEROSA
A partir de um certo momento da vida, que, para a maioria de nós, começa depois do aniversário de 40 anos, a grande questão neurológica se resume a uma pergunta: aonde diabos foram parar todos os nomes que eu esqueço? No início, desaparece o nome de uma atriz famosa. Depois, some o nome dos filmes que ela fez. Mais adiante, você não consegue achar no mar de neurônios o nome do famoso marido dela, muito menos o do outro ator, manjadíssimo, com quem ela contracenou em seu trabalho mais célebre. A débâcle ocorre no almoço de domingo em que você se percebe, diante da cara divertida de seus filhos, tentando explicar: “Aquele filme, com aquela atriz australiana, casada com aquele outro ator...”.
Essa, você já sabe – ou vai descobrir dentro de algumas décadas –, é a parte chata de um cérebro que bateu na meia-idade. Ela vem junto com muitas piadas e uma dose elevada de ansiedade em relação ao futuro. O que você não sabe, mas vai descobrir nas próximas páginas, é que existe outro lado, inteiramente positivo, das transformações cerebrais trazidas pelo tempo. “Conforme envelhecemos, o cérebro se reorganiza e passa a agir e pensar de maneira diferente. Essa reestruturação nos torna mais inteligentes, calmos e felizes”, diz a americana Barbara Strauch, autora deO melhor cérebro da sua vida. O livro, recém-lançado no Brasil pela editora Zahar, reúne argumentos que fazem a ideia de envelhecer – sobretudo do ponto de vista intelectual – bem menos assustadora do que costuma ser.
Editora de saúde do jornal The New York Times, um dos mais influentes dos Estados Unidos, Barbara resolveu investigar o que estava acontecendo com seu cérebro. Aos 56 anos, estava cansada de passar pela vergonha de encontrar um conhecido, lembrar o que haviam comido na última vez em que jantaram juntos, mas não ter a mínima ideia de como se chamava o cidadão. Queria entender por que se pegava parada em frente a um armário sem saber o que tinha ido buscar. Barbara não entendia como o mesmo cérebro que lhe causava lapsos de memória tão evidentes decidira, nos últimos tempos, presenteá-la com habilidades de raciocínio igualmente surpreendentes. Ela sentia que, simplesmente, “sabia das coisas”, mas, ao mesmo tempo, se exasperava com a quantidade imensa de nomes e referências que pareciam estar sumindo na neblina da memória. Como pode ser?
A capacidade de manter informações enraizadas em nossa
mente não sofre dano algum com a passagem do tempo
É provável que essa mesma pergunta já tenha passado pela cabeça de muitos que chegaram aos 40 anos rumo às fronteiras da meia-idade, um período cada vez mais dilatado em que podemos passar um tempo enorme de nossa existência. Com o aumento da expectativa de vida, a fase intermediária da vida, entre os 40 e os 68 anos, tornou-se uma espécie de apogeu. Nesses anos é possível aliar o vigor reminiscente da juventude à sabedoria da velhice que se insinua – desde que se saiba identificar, e abraçar, as mudanças que acometem o cérebro maduro. Ele já não é o mesmo que costumava ser. Mas as mudanças o transformaram num instrumento melhor. “Para o ignorante, a velhice é o inverno; para o sábio, é a estação de colheita”, diz o Talmude.
A jornalista Marília Gabriela, considerada a melhor entrevistadora do país, é especialista nas delícias e nos suplícios de um cérebro de meia-idade: “Eu não sei se é a idade ou se é o excesso de informações, mas eu esqueço o que as pessoas me dizem”. Aos 63 anos, Gabi, como é mais conhecida, pode até se esquecer de detalhes de conversas, mas mantém o raciocínio afiado para encurralar políticos e celebridades nos três programas apresentados por ela semanalmente. “Hoje, sou capaz de fazer análises rápidas sobre aspectos que as pessoas nem precisam me explicar”, afirma. “Leio nas entrelinhas, pego pelo olhar.”
A nova ciência do envelhecimento, retratada por Barbara em seu livro, conseguiu decifrar o caráter das mudanças por trás dessas percepções aparentemente contraditórias. Os pesquisadores aproveitaram a popularização das técnicas de ressonância magnética – nos últimos 15 anos, o número de estudos aumentou dez vezes – para flagrar o cérebro em pleno funcionamento. Eles descobriram que, sim, há um desgaste natural das células nervosas como se pensava. Mas ele é localizado e circunscrito, assim como seus prejuízos à mente.
Um estudo feito pela equipe do neurocientista americano John Morrison, da Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, analisou o que acontece com alguns pequenos botões localizados no corpo dos neurônios. Eles ajudam a captar as informações. Os cientistas descobriram que apenas um tipo desses botões sofre com o envelhecimento. São os menores, envolvidos no processamento de novas informações – onde parei o carro, onde estão as chaves ou como chama a nova namorada do meu amigo? Quase 50% desses receptores perdem a atividade. Mas outro tipo, encarregado de lembrar de grandes acontecimentos e de informações enraizadas em nossa mente, como habilidades profissionais, não sofre dano algum.
Se alguns neurônios podem ser danificados pelo tempo, há outros – até mesmo regiões inteiras do cérebro – que passam a funcionar melhor. “O raciocínio complexo, usado para analisar uma situação e encontrar soluções, é aprimorado”, diz o psiquiatra americano Gary Small, diretor do Centro de Envelhecimento da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Aos 49 anos, o artista plástico Vik Muniz está no auge de sua carreira. O sucesso, claro, é consequência da carreira produtiva iniciada aos 20 anos. Mas as habilidades aprimoradas por seu cérebro ao longo dos anos também têm seu quinhão de influência sobre o sucesso recente. Em 2008, foi o primeiro brasileiro a organizar uma mostra no museu de arte moderna de Nova York, o MoMa. Em 2007, começou o projeto Fotografias do Lixo no Jardim Gramacho, uma comunidade de catadores de lixo no Rio de Janeiro. Muniz recriou os personagens que encontrou e produziu algumas de suas mais belas obras. O processo de trabalho foi filmado e virou o documentário Lixo extraordinário, que concorreu ao Oscar da categoria neste ano. “Agora, sou uma pessoa mais focada e objetiva. Vou diretamente aos assuntos, não tenho tempo a perder”, diz Muniz. “Em poucos minutos de conversa já sei, por exemplo, com quem conseguirei desenvolver uma relação mais íntima.”
Um casal de pesquisadores comprovou o que Barbara, Gabi e Muniz sentem na prática. Os psicólogos americanos Warner Schaie e Sherry Willis, professores da Universidade de Washington, criaram em 1956 um projeto de pesquisa para acompanhar o desenvolvimento de 6 mil voluntários durante décadas. Esse tipo de estudo é o mais preciso que existe, uma vez que permite aos cientistas avaliar quanto uma pessoa amadureceu emocionalmente e quais habilidades cognitivas aprimorou.
A cada sete anos, Warner e Sherry submetiam os voluntários a uma bateria de testes de inteligência. Eles tinham de responder a questões que mediam a habilidade verbal (encontrar sinônimos para uma palavra), a memória verbal (lembrar palavras lidas em uma lista), a orientação espacial (virar símbolos e objetos), a capacidade de resolver problemas (completar sequências lógicas) e a habilidade numérica (problemas de adição e subtração).
Entre os 40 e os 60 anos, as habilidades verbal
e de resolução de problemas melhoram muito
A compilação de anos de estudo mostrou que os voluntários tiveram melhor desempenho em três habilidades – verbal, espacial e resolução de problemas – entre os 1940 anos e 1960 anos. Após esse período, havia um declínio nítido na pontuação dos voluntários. Mas cada pessoa apresentava um declínio maior em uma ou duas habilidades, nunca em todas as cinco.
No auge da vida
Pesquisadores acompanharam 6 mil voluntários por 50 anos. Descobriram que habilidades associadas à inteligência chegam ao ápice na meia-idade
Fontes: Schaie, K. W. & Zanjani, F. (2006). Intellectual development across adulthood, In c. Hoare (Ed.), Oxford handbook of adult development and learning. (pp. 99-122) New York: Oxford University Press
As transformações do cérebro que explicam a melhora das habilidades cognitivas durante a meia-idade estão entre as descobertas mais interessantes da ciência nos últimos tempos. Elas revelam as origens biológicas da sabedoria trazida pela maturidade. Os cientistas descobriram que a facilidade para raciocínios complexos pode ser explicada por mudanças físicas no cérebro. A camada de mielina, um tipo de gordura que reveste as células nervosas e faz com que as informações viagem mais rápido, aumenta progressivamente com o passar dos anos e atinge seu pico por volta dos 50 anos. “No começo da vida, os circuitos motores e os encarregados pela fala recebem a maior parte da mielina”, diz o neurologista George Bartzokis, pesquisador da Universidade da Califórnia, responsável pela descoberta. “À medida que envelhecemos, os circuitos que permitem analisar contextos e que nos fazem ficar mais espertos são os que recebem mais mielina.”
Os pesquisadores também descobriram que, conforme envelhecemos, mudamos o padrão de ativação cerebral. Isso significa que acionamos áreas diferentes das usadas anteriormente para fazer as mesmas tarefas. A região frontal do cérebro, encarregada da racionalidade, passa a concentrar a maior parte das atividades. A área posterior da cabeça, onde estão algumas das estruturas ligadas a nossas respostas emocionais, é acionada com menos frequência. Outra mudança significativa: para realizar a mesma tarefa de adultos jovens (de até 30 anos), os mais velhos usam mais áreas do cérebro. Em vez de usar regiões de apenas uma metade do cérebro, passam a usar as duas. Os cientistas ainda não estão certos sobre o que essas mudanças representam. Há duas possibilidades. A primeira, menos agradável, é que o cérebro esteja ficando velho a ponto de não reconhecer mais as áreas encarregadas de cada atividade. A segunda hipótese é mais reconfortante: o cérebro pode, sim, estar ficando velho. Mas, ao redirecionar funções para áreas diferentes e para mais regiões, dá mostras de que é capaz de se adaptar e manter seu bom funcionamento.
“Não sabemos qual das duas hipóteses é verdadeira”, diz a neurocientista Cheryl Grady, pesquisadora da Universidade de Toronto, no Canadá, e uma das primeiras a notar mudanças no padrão de ativação. “Provavelmente, as duas estão certas. Para algumas tarefas, o cérebro pode perder a precisão. Para outras, pode usar mecanismos compensatórios.”
É irresistível pensar que, talvez, a superativação do cérebro, representada pelo uso simultâneo de várias áreas, possa estar por trás das melhoras de raciocínio relatadas por quem está na meia-idade – e comprovadas pelos pesquisadores. Os cientistas descobriram que um sistema muito especial do cérebro, formado por circuitos localizados em camadas profundas do órgão, está constantemente ativado nos adultos de meia-idade. O sistema, chamado de modo- padrão, é usado nos momentos de reflexão, quando pensamos sobre o que aconteceu recentemente, fazemos balanços e traçamos planos para nós mesmos. Os pesquisadores concluíram que os adultos simplesmente não conseguem desligar o modo-padrão, algo que os jovens fazem quando estão envolvidos em uma tarefa. Os adultos, mesmo quando estão concentrados, continuam o bate-papo interno com eles mesmos.
“O modo-padrão do cérebro ainda é um completo mistério”, diz a neurocientista Patricia Reuter-Lorenz, pesquisadora da Universidade de Michigan. Estar em constante reflexão pode nos tornar distraídos, mas também pode ajudar a ter boas ideias. Isso explicaria por que adultos de meia-idade têm o raciocínio afiado, embora não lembrem onde puseram a carteira.
O cérebro de meia-idade pode ganhar habilidades surpreendentes conforme envelhecemos, mas isso não acontece com todos. Os cientistas perceberam que só os adultos que sempre tiveram hábitos saudáveis e vida intelectual ativa apresentaram a superativação. Há indícios de que a prática frequente de exercícios físicos promove o nascimento de novos neurônios em uma região do cérebro associada à memória. E atividades que desafiam o cérebro, como aprender uma nova língua ou até mesmo exercícios de memória, evitam que áreas do cérebro “enferrugem”. É como se essas atividades criassem uma reserva de neurônios que pode ser usada pelo cérebro quando ele entra em declínio. “Se a pessoa conseguiu criar uma boa reserva, é provável que tenha mais mecanismos para suprir deficiências causadas pelo envelhecimento”, diz o neurologista Ivan Okamoto, pesquisador do Instituto da Memória da Universidade Federal de São Paulo.
Adultos que têm hábitos saudáveis e mente ativa
mostram cérebro de alto desempenho na meia-idade
Há poucos anos, a meia-idade costumava ser considerada uma fase de crises, desencadeadas pela percepção dos primeiros lapsos de memória. Eles seriam sinal inequívoco da aproximação da velhice e, consequentemente, da morte. A percepção da brevidade da vida despertaria um conjunto de comportamentos chamado pelo psicólogo canadense Elliott Jaques de crise da meia-idade – sim, a famosa. Entre os sintomas descritos por Jaques no artigo de 1965 que deu origem ao termo estão “preocupação doentia com a saúde e a aparência”, “promiscuidade sexual” e “ausência de verdadeiro prazer em viver”. Esse tipo de comportamento pode ser facilmente encontrado entre pessoas de meia-idade, mas o conceito não tem base científica.
Jaques propôs sua teoria ao analisar casos de artistas que teriam mudado o estilo de suas obras após os 40 anos – um grupo pequeno e específico demais. Um dos estudos mais abrangentes a averiguar o nível de bem-estar nessa fase da vida mostrou que a maioria das pessoas se diz mais feliz do que antes. Segundo levantamento com 8 mil americanos da Fundação MacArthur, instituição privada de fomento à pesquisa nos Estados Unidos, apenas 5% dos entrevistados apresentavam reclamações. E, mesmo entre esses, a maioria já enfrentara problemas semelhantes em outras épocas – o que isentaria a culpa da meia-idade.
Aos 52 anos, o físico Marcelo Gleiser, professor do Dartmouth College, nos Estados Unidos, diz ter encontrado serenidade, e não angústia. “Quando você fica mais velho, torna-se mais calmo e seguro”, afirma. Ele diz ser capaz de escolher desafios com mais critério, para concentrar tempo e energia em problemas que possa resolver. “Conhecer os próprios limites dá paz de espírito.” Os estudos de neurociência sugerem que essa pacificação interior também está relacionada a alterações do cérebro. A equipe da psicóloga Mara Mather, da Universidade do Sul da Califórnia, mostrou imagens tristes e repulsivas a voluntários maduros e a jovens. Concluiu que nos mais velhos a área do cérebro responsável pelas emoções reagia menos às figuras negativas. Concluiu que era um sistema de proteção. O cérebro parecia escolher dar menos atenção ao lado ruim da vida. Há nisso mais inteligência e sabedoria do que um cérebro jovem talvez seja capaz de perceber.
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