sexta-feira, 25 de maio de 2012
O Que Quase Todos Somos e o Que Podemos Ser
Autor: Arthur Buchsbaum[1]
A busca é um estado, não um caminho...
Quase todos nós temos opiniões, ou acreditamos tê-las, mas, essencialmente, não as temos, simplesmente porque quase nunca as mesmas vieram, dentro de nós, como um produto de elaborada reflexão, mas sim como uma repetição de idéias vindas de outrem.
Todo ser humano nasce dentro de uma dada comunidade, com todas as suas idiossincrasias específicas, com sua etnia ou etnias predominantes, seu corpo de idéias de origem religiosa, seus valores morais, e seus hábitos em geral. Após chegar à idade adulta, e por toda a sua breve vida, este ser humano irá preservar, em geral, quase todas estas idiossincrasias, continuará adotando as mesmas crenças religiosas, os mesmos valores morais e os mesmos hábitos que adquiriu ao longo de sua infância e adolescência através de sua comunidade de origem. Na melhor das hipóteses, se tiver o privilégio de freqüentar uma universidade ou alguma instituição afim, terá alguns arremedos de reflexão, fará algumas superficiais elucubrações "filosóficas", mas a sua idiossincrasia ideológica, adquirida no começo de sua vida, ficará quase intacta.
Poderá “filosofar”, assim como as crianças brincam com joguinhos de montagem, combinará certas idéias pré-fabricadas e poderá montá-las, dentro de resultados previamente determinados pelos seus fabricantes.
Na verdade a vida de cada ser humano já está previamente programada desde o seu nascimento. Quais serão as suas opiniões, os seus hábitos, as suas respostas diante de determinados estímulos, as suas “opiniões”, as suas crenças, inclusive as de origem religiosa. A sua eventual rebeldia. Se não irá se casar, ou com quem se casará. Como será pai ou mãe. Que tipo de família irá constituir, ou se permanecerá sozinho. As suas atitudes morais. A sua atitude política. Os seus arremedos “filosóficos”.
Poucos, muito poucos, conseguem romper esta forte crisálida, e tornarem-se verdadeiros homens ou mulheres, enfim verdadeiros filósofos. Bem poucos deixam de ser “pinóquios” ou “pinóquias”, isto é, homens e mulheres de mentira, e conseguem tornarem-se verdadeiros seres humanos, isto é, aqueles capazes de exercer reflexão própria.
Existem muitos “filósofos”, bem como professores de “filosofia” com habilidades intelectuais e loquacidade, capazes de escrever “bons” artigos e até livros, mas que ainda não conseguiram superar a essencial mentira que constitui as suas breves vidas, pois não possuem, além dos seus hábeis arremedos, algo que possa ser considerado reflexão genuína. Agem essencialmente segundo o senso comum da maioria, conforme o condicionamento adquirido comum a todos os seus colegas “pinóquios” e “pinóquias”.
Se tal “filósofo” for brasileiro, ele(a) geralmente apreciará torcer pelos seus timinhos de futebol, irá a barzinhos onde poderá excitar as suas emoções com shows musicais, e onde poderá degustar os seus alcoólicos drinques. Terá as mesmas opiniões políticas da maioria, mas certamente enfeitadas com a sua intelectual loquacidade, adquirida em seus anos de “superior” educação. Eventualmente irá buscar outras formas de excitação com mulatas(os) e escolas de samba. Será o maior prazer que poderá gozar em suas falsas vidas, a eventual excitação de suas emoções, de seu sexo, ou até de seu intelectozinho. Tal excitação irá encobrir a sua sempre presente pobreza de espírito, a mentira em que se tornou sua vida. Pois jamais conseguiu conhecer a si mesmo(a), embora possa até ter lecionado as idéias de Sócrates e Platão, em suas “bem” elaboradas aulas. Jamais soube o que é realmente a sua alma. Limitou toda a sua vida a imitar o que aprendeu desde criança, eventualmente enfeitando isto com os seus arremedos intelectuais e sua loquacidade. Poderá emitir opiniões acreditando serem as suas próprias; quanto maior for a sua loquacidade, melhor será o embuste.
Quase ninguém o sabe, mas todos nós somos essencialmente robôs, somos “pinóquios” e “pinóquias”, bonequinhos de corda que cumprem zelosamente a programação que recebemos da sociedade circundante ao longo de nossas infâncias e adolescências. Até eventuais formas de rebeldia estão incluídas nesta quase sempre sutil programação, pois tanto a adesão como a rebeldia são duas faces da mesma moeda, ambas são movimentos condicionados, e, portanto, não livres.
A Verdade só pode ser alcançada pela Liberdade, pela emancipação de todas as idéias e hábitos adquiridos sem reflexão. A Liberdade só pode ser atingida pela superação de toda alienação, de toda cegueira. Todo este entulho, todas estas falsas idéias, só pode ser removido pelo verdadeiro espírito científico, pelo inabalável compromisso com a Verdade, pela férrea determinação de trespassar todo o condicionamento. Pelo questionamento, pela indagação de quem verdadeiramente ele ou ela é. Pelo desprender-se de todas as ilusões, por mais bonitas que as mesmas possam ser. Pelo conhecimento de si próprio.
Uma possível ferramenta para sermos capazes de superar todo o condicionamento limitante, para adquirirmos uma capacidade de reflexão aguda e forte, para desenvolvermos em nós o espírito científico, está no estudo da Lógica, especialmente da Lógica Formal. O espírito científico é necessário para a libertação, mas não é suficiente, pois só uma inabalável vontade, uma conscientização da mentira de todo condicionamento, um autêntico espírito religioso, é que pode dar a nós a força motriz inicial para esta jornada sem fim que é a descoberta da Verdade.
O espírito religioso é a vontade inabalável de alcançar a essência de tudo, e o espírito científico é o discernimento, a capacidade de distinguir o que é verdadeiro do que é falso. O primeiro pode conter o segundo, mas a recíproca não é verdadeira.
Autor: Arthur Buchsbaum
email: arthurrovabu-pub@yahoo.com.br
Veja mais detalhes sobre o autor nas notas abaixo.
Notas:
[1] O autor é professor universitário, e suas áreas de interesse abrangem Matemática, Lógica, Filosofia e Teosofia, entre outros assuntos.
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