Da natureza da maldade humana
O suíço Jean-Jacques Rousseau considerado um dos maiores pensadores europeus no século XVIII, foi o autor de inúmeras obras que inspiraram as grandes reformas políticas e educacionais. Formou, com Montesquieu e outros iluministas, um grupo de brilhantes pensadores que são distinguidos como os patronos da ciência política moderna. Há algum tempo interessei-me por um texto deste pensador, cujo título é "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens". Talvez, por puro atrevimento, ousamos desenvolver ou alinhavar modestas reflexões sobre este valioso trabalho. De forma resumida, Rousseau defendeu a tese da bondade natural dos homens, depois pervertidos pelas civilizações.
Passados mais de duzentos anos, o crepúsculo do século XX nos presenteou com um dos maiores conhecimentos desenvolvidos pelo homem. Certamente muito mais importante do que a chegada do homem à Lua. Cientistas produziram um esboço do genoma humano, ou seja, completaram a cadeia de instruções bioquímicas que descrevem como o corpo humano é feito e como funciona. Para decifrar o código genético humano, os cientistas tiveram que ler três bilhões de informações químicas contidas no DNA das células humanas. Com estas informações temos conhecimento que todas as células vivas são controladas pelas suas características genéticas, que são transmitidas de uma geração a outra. Essas instruções gênicas são dadas por um sistema de códigos baseados numa substância chamada DNA (ácido desoxirribonucléico) que contém mensagens intrínsecas a sua estrutura química.
Foi esta maravilhosa descoberta que levou-nos a levantar uma discussão sobre a tese de Rousseau. A maldade humana é nata ou adquirida? Hoje tenho plena convicção de que todo homem nasce geneticamente com uma carga variável de maldade. E mais, que a correção e/ou a redução desta maldade acontece nos diversos instrumentos criados pela própria sociedade. E quais são estes instrumentos? 1º) A própria família, com exemplos de valores, disciplina, caráter,costumes, atitudes, amor... 2º) A escola, que contribui com ensinamentos de cultura, arte, civilizações, ciências. 3º) A igreja (religião), com ensinamentos sobre bondade/céu/maldade/inferno. 4º) O Estado, com todo o arcabouço jurídico para exercer o poder de polícia, punição, castigo, correção, e compensações financeiras por erros (maldades). A verdade é que, mesmo com todo este conjunto de instrumentos, nossas penitenciárias estão superlotadas de delinqüentes primários e reincidentes, nossos tribunais estão abarrotados de processos tendo como origem de causa o desvio de comportamento ético/moral, nossas igrejas vivem com longas filas nos confissionários e uma grande quantidade de pessoas deitadas em divãs recebendo terapias de psicanálises.
É necessário ressaltar, que não podemos desprezar os diferentes conceitos de padrões de moralidade e convenções em distintos períodos da história da humanidade, ditados por imperadores, déspotas, pensadores e até mesmo por religiosos. Como exemplos, podemos trazer à lembrança algumas personalidades cruéis, alguns crimes coletivos e outros fatos que marcaram negativamente a natureza humana nos últimos séculos. Entre outros lembramos dos feitos de Ivan, de Stalin, de Hitler, de Pol Pot, das invasões bárbaras, das Cruzadas, da Santa Inquisição, da escravidão dos negros, do extermínio dos Astecas e dos Incas, das bombas atômicas no Japão, a recente guerra nos Bálcãs e a atual guerra entre árabes e judeus.
Portanto, independentemente de decidirmos se a infinita maldade humana nasce com o homem ou é adquirida por um processo de corrupção junto à sociedade, não podemos negar o fato de que a mesma tem acompanhado a humanidade durante milênios. Ao nosso entendimento, só existe uma solução para extirpar a maldade do homem. A resposta estaria na possibilidade de alterarmos as “falhas” genéticas de um indivíduo, através de um processo de manipulação dos genes. Justamente as “falhas” que nos trazem os desvios de ética e de moralidade. Para finalizar, apostamos que num futuro breve a maldade humana será diagnosticada como uma doença de comportamento, que poderá ser tratada através de uma simples "cirurgia" genética.
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