O SIMBOLISMO DA ÁGUA
Autor: Hugo Lapa (Atendimento com terapia de vidas passadas)
A água é uma substância formada pela combinação de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. A água é, portanto, formada por dois gases. Ela pode se apresentar no estado sólido, líquido e gasoso. O estado líquido, porém, é o mais abundante no mundo. A água é tão essencial a vida que, caso a água desaparecesse do planeta Terra, nenhum ser vivo poderia manter-se existindo.
A água era considerada um dos quatro elementos fundamentais no mundo antigo, dos quais tudo o que existe teria procedência. A importância da água pode ser verificada nas ideias do filósofo Tales de Mileto, que dizia que “tudo é água” e “tudo começa na água”. Tales inaugurou a tendência filosófica que buscavam entender a chamada physis, um conceito que significa natureza, mas que depois foi traduzida como “física”, por ser o conhecimento que buscava explicar a origem das coisas do mundo.
O simbolismo da água é bem vasto, assim como o simbolismo de todos os outros elementos. Na antiguidade, ela estava associada ao começo do mundo. Em Gênesis, “o espírito de Deus pairava por sobre as águas” (GN 1:2). Ela era considerada as águas primordiais, de onde tudo surgiu. Ela também foi associada ao caos primordial, o meio líquido que originou todas as coisas. Esse simbolismo das águas primordiais, ou do “oceano das origens” é praticamente universal, sendo encontrado em dezenas de culturas arcaicas.
O aspecto gerador da água encontra correspondência no útero materno, quando um novo ser está em gestação. Nesse sentido, encontramos o líquido amniótico, que é o meio líquido que abriga o surgimento de uma nova vida, um novo nascimento.
Na mitologia egípcia, o monte primordial surgiu das águas primordiais. Na tradição indiana, a água é o veículo do chamado “ovo do mundo”, o meio que gerou todo o mundo. De acordo com este significado, a água representa o meio através do qual todas as coisas surgiram. Ela foi, dessa forma, uma matéria prima para a criação do mundo, ou pelo menos um dos meios pelos quais o mundo pôde ser gerado. Nesse sentido, a água se apresenta como a fonte de onde tudo proveio, o embrião original.
De acordo com Chevalier & Gheerbrant, a água é o símbolo da infinitude dos possíveis, ou seja, ela é o potencial que guarda, em estado latente, todas as possibilidades. Os textos hindus clássicos afirmam que “tudo era água” no início, indicando a água como a matéria-prima original. Aqui a água simboliza um inesgotável reservatório de energia primeva de onde tudo brotou. A ciência moderna considera que a vida na Terra começou primeiro na água, com o desenvolvimento dos primeiros seres aquáticos que posteriormente foram deixando os mares e iniciando sua existência na terra e no ar. Assim, o simbolismo da água com o significado do germe da vida encontra eco nas pesquisas científicas.
A água primordial, no entanto, não é a água física, mas um elemento sutil sem início nem fim. Os textos hindus deixam claro que, para que exista esse potencial formativo, é preciso não haver limites. Por isso, diz-se no Taoísmo que “as vastas águas não tinham margens”. Ainda dentro desse sentido gerador, a água representa a fertilidade, a fecundidade, a boa colheita, o crescimento da semeadura.
Diferentemente da terra e do ar, o fogo e a água são considerados agentes de transformação do mundo. Nesse sentido, a água possui uma estreita relação com o simbolismo da lua, que muda constante e periodicamente. Diz-se que as marés obedecem as fases da lua. No Tarot, a carta da lua aparece com uma poça de água no solo, indicando a associação que há entre ambas. A água é maleável, pode se adaptar a qualquer meio sólido, tomando a forma do lugar em que se encontre. Por isso se diz que ela seja um agente se transformação e adaptação ao novo.
Mesmo sendo a água fraca, maleável, fluida, ela pode, com o passar do tempo, até mesmo desgastar a rocha mais rígida, que não sabe ceder e permanece fixa e imóvel em seu lugar. Lao Tsé expressa divinamente o significado da água dentro de sua capacidade adaptativa e como isso pode servir de lição ao ser humano:
“A virtude verdadeira é como a água
Em silêncio se adapta, ao nível inferior
Que os homens desprezam
Ocupa os lugares mais baixos que os homens detestam.
Acomoda-se onde ninguém quer permanecer.
Serve a todos e a tudo, não exige nada.”
Mas o simbolismo da água encontra mais um significado que é praticamente universal: a água como um meio de regeneração. Essa representação é bem conhecida na passagem bíblica que cita o batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista. Não por acaso esse evento é reconhecido como o início do caminho messiânico de Jesus. João Batista acatou o apelo de Jesus para que o batizasse nas águas, mesmo acreditando que não era digno de batizar Jesus. Após a imersão na água, os evangelhos contam que uma pomba branca sobrevoou os céus, representando assim a liberdade do espírito conquistada após o ato. Nesse momento, Jesus teria sido regenerado em corpo, emoções e mente, e aberto as portas de sua consciência para sua missão. Aqui está bem caracterizado o simbolismo da água como meio de regeneração, ela cura, purifica e faz renascer.
Como diz Chevalier: “A imersão [na água] é regeneradora, opera um renascimento, por ser ela, ao mesmo tempo, morte e vida. A água apaga a história, pois restabelece o ser num novo estado. A imersão é comparável à deposição do Cristo no Santo Sepulcro: ele ressucita, depois dessa descida nas entranhas da terra. A água é símbolo da regeneração: a água batismal conduz explicitamente a um novo nascimento”. Aqui vemos a representação da água viva, da fonte da juventude.
A água também se expressa no seu ciclo universal. Ela vive nas entranhas da terra, brota para rios e lagoas e desemboca no mar. A água se liquefaz e se torna vapor. Sobe aos céus, se condensa em nuvens. As nuvens se agrupam e formam a nuvem de chuva, que se precipitam sobre o solo jorrando a água de volta à terra novamente em estado líquido. E posteriormente isso se repete infinitamente. Na descrição do ciclo da água vemos uma representação bastante clara do próprio ciclo da alma. A alma estava no mundo celeste, ao que se precipita e desce à Terra, para animar a matéria sólida. Ao término de sua missão, retoma o estado “gasoso” quando abandona o corpo e se assume novamente como espírito em ascensão aos céus. Vemos uma boa figuração da doutrina da reencarnação da alma expressa pelo ciclo das águas.
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