- Um amigo nos havia convidado a passar alguns dias na Montanha Pocono, nos Estados Unidos. Não havia nevado ainda: as árvores estavam despidas de folhas, as “birch” com suas cascas brancas, as outras vestidas de negro.
- Naquela noite nevou. Nevou muito. Tudo se arredondou com a neve: as árvores, os arbustos, os campos, os caminhos. A camada de neve deveria ter mais de quarenta centímetros de fundura.
- Tudo absolutamente liso. Dava dó caminhar sobre a neve, porque os nossos passos estragavam a perfeição do lençol branco.
- Ao escrever este texto dei-me conta de que talvez, inconscientemente, eu tivesse me inspirado nessa casa – e faz mais de trinta anos! – quando descrevi para a minha filha Raquel, arquiteta, a casa com que eu sonhava: Um grande espaço sem paredes que o dividissem, janelas de vidro, cozinha, sala de jantar, sala de televisão e música, varanda, tudo se comunicando para que ninguém ficasse excluído do convívio. Só faltou a lareira.
- Quem sonhou aquela casa na montanha sonhou com o aconchego. Todos juntos, crianças, velhos, adultos, convidados, rindo, comendo, bebendo, conversando. Pois não é para isso que se constrói uma casa? Para a comunhão e o amor?
- Aí, olhando para fora através do vidro vi um homem que andava ao redor da casa, fazendo coisas, mas não participava do nosso convívio.
- “ Quem é esse homem?”, perguntei ao meu amigo. “ Ele é o dono da casa. Ele está alojado num apartamento no porão da casa. E, sendo amigo, nos cedeu a parte de cima...”
- Aí ele fez um silêncio e acrescentou: “ Sua mulher arranjou um novo amor e agora está sozinho...”.
- Enchi-me de compaixão. Mas pensei que na vida das pessoas acontece como na natureza. O tempo passa. As estações se sucedem. E depois do inverno a primavera volta... Rubem Alves
sábado, 10 de setembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário