Foi numa aula de psicologia cognitivo-comportamental que comecei a desconfiar que o TDAH me acompanhava desde a infância. Ao falar sobre o transtorno, a professora parecia estar descrevendo minha vida. Ao mesmo tempo que tal suspeita me provocou uma certa apreensão, saber que todas as minhas peripécias tinham um nome me deu um certo alívio.
Sempre soube que havia algo errado comigo, mas jamais atribuí o problema a um determinado transtorno, vivia acreditando que meus comportamentos se davam por pura falta de comprometimento com as tarefas que realizava, relaxo, preguiça e coisas do tipo. Na família ganhava apelidos como “pancada” o qual perdura até os dias de hoje, na escola, as professoras diziam que eu era muito inteligente, porém muito desatenta, e dessa maneira, tinha um desempenho satisfatório porém aquém do esperado, o que, de certa forma, contribuiu para que ninguém levantasse a suspeita da ocorrência de um transtorno, pois nunca tive dificuldades para alcançar a média. E acredito que essa possa ser a biografia de muitas pessoas que identificam em si múltiplas capacidades, porém parecem sempre estar se auto sabotando.
Desde então, venho frequentando cursos, palestras e lendo várias publicações científicas a respeito.
Porém, uma coisa começou a me intrigar: falam do sujeito portador do TDAH como sendo um sujeito que deve ser tratado etc e tal. Porém parecem ignorar a capacidade criativa dessas pessoas. Já conheci muitas pessoas que se diziam portadoras de tdah com uma capacidade criativa inacreditável, grandes artistas, pessoas diferenciadas e se buscarmos na literatura algo que corrobore esta afirmação podemos recorrer a constatação do lobo frontal ser o responsável pelo processamento das informações e que este atua de modo deficitário no indivíduo com tdah, assim fica fácil imaginar a avalanche de pensamentos sem modulação que invade o cerebro do portador do descrito transtorno. E se ainda imaginarmos que o artista precisa de uma total liberdade para criar algo, temos no portador de tdah um campo fértil para o desenvolvimento de tais criações já que este apresenta dificuldades em inibir pensamentos ou comportamentos diferenciando-se assim do sujeito cujo o cérebro mantém uma atividade “normal” e portanto com um mecanismo regulador de idéias preservado.
E então uma dúvida invadiu meu pensamento: será mesmo que todo portador de TDAH deve ser medicado ou submetido a algum tratamento interventivo? Acredito que a resposta seja negativa, pois algumas pessoas dependem dessa capacidade criativa para viver e o que para todos pode parecer um transtorno, para elas é a ferramenta de trabalho ou até mesmo uma simples característica. É claro que as pessoas que se sentem prejudicadas em suas atividades acadêmicas e/ou profissionais devem recorrer aos profissionais de saúde, porém antes de qualquer intervenção medicamentosa ou mesmo comportamental se faz necessário avaliar em como o tratamento irá impactar na vida particular daquele sujeito, cada caso deve ser avaliado como sendo único. Daí a sugestão da suspensão das teorias do comportamento para a compreensão desse modo de existir sob um olhar fenomenológico existencial.
Acredito não ser essa uma tarefa simples uma vez que estamos acostumados a explicar o mundo Segundo o modo metafísico, porém acredito que estudando cada fenômeno como sendo único poderemos ser mais fiéis a interpretação do modo de existir de cada ser proporcionado assim um olhar mais cuidadoso para essa questão.
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O artigo propõe uma discussão sobre as características negativas e positivas do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade)e sugere o olhar fenomenológico existencial como sendo o modo mais cuidadoso de abordar a questão.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
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