JONATHAN SAFRAN FOER
LIVROS
SAUDE
VEGETARIANISMO
Canção de Milarepa: “Acostumado a contemplar o Amor e a Piedade, Esqueci-me das diferenças entre mim e os outros”
“Isso foi o que entendeu muito bem aquele profundo fisiólogo, Buda”: Nietzsche sobre o ressentimento
Os 33 Nomes de Deus (e outros mais), por Rubem Alves: “Ás vezes me perguntam se acredito em Deus”…
“Quase sempre, quando eu dizia a alguém que estava escrevendo um livro sobre “comer animais”, todos presumiam, mesmo sem saber coisa alguma sobre minhas opiniões, que eu defendia o vegetarianismo. É uma suposição reveladora, uma suposição que implica não apenas que uma pesquisa extensa sobre a pecuária afastaria o pesquisador do consumo de carne, mas que a maioria das pessoas já sabe que é esse o caso. (Que suposições você fez ao ler o título deste livro?)
~ Jonathan Safran Foer, em “Comer Animais” (Rocco, 2011)
O escritor americano Jonathan Safran Foer, autor de “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto” (Extremely Loud and Incredibly Close, que foi traduzido em português por “Tão Forte, Tão Perto” e é indicado ao Oscar de Melhor Filme este ano), já foi vegetariano, depois deixou de ser, depois virou onívoro, depois deixou de ser, e agora é vegetariano de novo – agora com uma vasta pesquisa que resultou em um livro, “Comer Animais“. Formado em Filosofia e atualmente professor de Creative Writing na New York University (NYU), Foer deixou de comer animais, mas a conclusão que ele chegou é que, independente de deixar ou não de comê-los, o que devemos mudar mais radical e urgentemente é a indústria da carne.
Numa entrevista recente, Foer foi perguntado se pedir para o mundo parar de comer carne não seria algo um tanto radical? A resposta: “Sim, concordo. Acho que a resposta mais correta seria: deve-se comer menos carne. Não há chance alguma de que metade do mundo vire vegetariana em dez anos. Mas eu realmente acredito que existe uma chance de que metade das refeições consumidas seja vegetariana e, claro, isso teria o mesmo efeito”.
Abaixo, alguns trechos selecionados do livro de Foer, “Comer Animais”, de 320 páginas. A Folha publicou um trecho inicial do livro, em pdf, aqui.
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COMER ANIMAIS [TRECHOS]
Por Jonathan Safran Foer
» “Meu vegetarianismo, tão bombástico e rigoroso no começo, durou uns poucos anos, engasgou e depois morreu sem fazer alarde. Nunca pensei numa resposta ao código da nossa babá, mas encontrei maneiras de maculá-lo, diminuí-lo e esquecê-lo. De um modo geral, eu não machucava nada. De um modo geral, eu lutava para fazer a coisa certa. De um modo geral, minha consciência estava bastante limpa. Passe a galinha, estou morrendo de fome.”
» “Nossa situação é estranha. Praticamente todos concordamos que o modo como tratamos os animais e o meio ambiente importa, mas, no entanto, poucos entre nós param para pensar na nossa mais significativa relação com os animais e o meio ambiente. E o que é mais estranho ainda, aqueles que de fato optam por agir de acordo com esses valores nada controversos, recusando-se a comer animais (o que todos concordam que pode reduzir tanto o número de animais maltratados quanto a nossa pegada ecológica), com frequência são considerados marginais ou até mesmo radicais.”
» “Nossa situação é tão extrema, que pesquisadores do Centro de Atividades de Pesca, da Universidade da Colúmbia Britânica, argumentam que ‘nossa interação com os recursos da pesca (também conhecido como peixes) passaram a lembrar… as guerras de extermínio’.”
» “Temos travado uma guerra, ou melhor, deixado uma guerra ser travada contra todos os animais que comemos. Essa guerra é nova e tem nome: criação industrial.”
» Menos de 1% dos animais mortos para obtenção de carne nos Estados Unidos vem de criações familiares.
» “No mundo das criações industriais, as expectativas são viradas de cabeça para baixo. Os veterinários não trabalham buscando a melhor saúde possível, mas o maior lucro possível. As drogas não são usadas para curar doenças, mas como substitutos para sistemas imunológicos destruídos. As criações não visam produzir animais saudáveis.”
» “Quer estejamos falando de espécies de peixes, porcos ou algum outro animal que comemos, será que esse sofrimento é a coisa mais importante do mundo? Claro que não. Mas essa não é a questão. Será que ele é mais importante do que sushi, do que bacon ou do que nuggets de frango? Essa é a questão.”
» “Depois de fugir da Polônia ocupada pelos nazistas, o prêmio Nobel Isaac Bashevis Singer comparou os preconceitos com as outras espécies às ‘mais extremas teorias racistas.’ Singer argumentou que os direitos animais eram a forma mais pura de defesa da justiça social, porque os animais são os mais vulneráveis de todos os oprimidos. Ele sentia que tratar mal os animais era a epítome do paradigma moral do ‘poder faz a força.’ Trocamos seus mais básicos e importantes interesses por interesses humanos efêmeros só porque podemos. É claro, o animal humano é diferente de todos os outros animais. Os humanos são únicos, só não de um modo que torna a dor animal irrelevante.”
» O quão destrutiva uma preferência culinária precisa ser antes que decidamos comer outra coisa? Se contribuir para o sofrimento de bilhões de animais que levam vidas miseráveis (e com muita frequência) morrem de formas horrendas não é motivo suficiente, o que mais seria? Se ser o contribuinte número um à mais séria ameaça ao planeta (o aquecimento global) não é suficiente, o que mais é? E se você se sente tentado a protelar essas questões de consciência, a dizer agora não, então quando?
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