"Enganam-se aqueles que dizem que o ódio separa. A verdade é que o ódio junta as
pessoas. Como disse um jagunço do Guimarães Rosa, quem odeia o outro, leva o outro para
a cama. Diferente do fogo da vela, o fogo do ódio é como um vulcão. Não se apaga nunca
. Por fora pode parecer adormecido. No fundo, as chamas crepitam. A diferença entre os
dois? O amor, por causa da liberdade, abre a mão e deixa o outro ir. No amor existe a
permanente possibilidade de separação. Mas o ódio segura. Não tenha dúvidas. Os
casamentos mais sólidos são baseados no ódio. E sabe por que o ódio não deixa ir? Porque
ele não suporta a fantasia do outro, voando livre, feliz. O ódio constrói gaiolas, e ali dentro
ficam os dois, moendo-se mutuamente numa máquina de moer carne que gira sem parar
, cada um se nutrindo da infelicidade que pode causar no outro. As pessoas ficam juntas para
se torturarem. Não menospreze o poder do sadismo. Ah! A suprema felicidade de fazer o
outro infeliz!"