A prisão de não saber dizer não
A dificuldade em dizer
não é um padrão emocional muito comum, facilmente detectável em boa
parte das pessoas. A maioria de nós, em maior ou menor grau, sente essa
dificuldade. Vamos analisar um pouco como esse padrão se manifesta, o
que pode estar por trás dele, bem como sugestões de como seria possível
melhorar.
Em alguns casos é muito
fácil detectar o padrão de não conseguir impor limites. Conseguimos
percebe-lo em nós mesmos muitas vezes quando alguém nos pede algo (ou as
vezes nos impõe), e, para não causar brigas, constrangimentos ou para
evitar sermos rejeitados, fazemos algo que vai contra o nosso desejo
interior.
Outras vezes a
dificuldade de dizer não aparece disfarçadamente. Vou citar um exemplo.
Algumas explosões de raiva são na verdade, uma manifestação das
consequências desse padrão. Conheço uma pessoa que costuma aceitar tudo,
vai engolindo, aceitando, permitindo. O outro pede e ela faz e não
reclama (pelo menos não reclama para a pessoa diretamente, comenta
apenas com os outros). Todos a vêem como uma ótima pessoa, muito
solícita. No entanto vai se acumulando uma insatisfação interior até que
um belo dia surge uma grande reação de raiva. Nesse dia, ela consegue
dizer não para a pessoa e aproveita a oportunidade para falar tudo que
ficou engasgado de tudo que ela fez contra a sua vontade. O resultado
disso é a perda das amizades, dificuldades nos relacionamentos de
trabalho e em todas as áreas.
As pessoas que tem esse
padrão costumam comentar coisas do tipo “fulano é muito cara de pau,
teve a capacidade de pedir isso e aquilo, e não é a primeira vez”; “eu
jamais teria coragem de pedir tal coisa pra alguém”. E no final
perguntamos: e você atendeu ao pedido? E a reposta é sempre “ah sim,
acabei fazendo, mas foi contra a minha vontade”. E o discurso segue
relatando o quanto esse pedido inapropriado lhe trouxe prejuízo
material e quanto tempo foi perdido.
É como se a pessoa
dissesse interiormente “vou fazer o que estão me pedindo, mas de forma
muito contrariada, vou reclamar bastante e ficar com muita raiva,
comentarei com todo mundo o quanto essa pessoa é cara de pau, quem sabe
ela toma consicência e para de me pedir essas coisas, não é possível
que isso continue, ela deveria saber o limite, deveria ter bom senso
assim como eu tenho”. Obviamente, o comportamento do outro não vai muda
por isso e a história irá se repetir.
Esse tipo de discurso
coloca a pessoa no lugar vítima: “os outros não me respeitam, a culpa
não é minha, o mundo é que deveria mudar”. Um ganho secundário desse
comportamento é o de ser visto como uma pessoa boa pelos outros: a
explorada, a coitada, a vítima das maldades do mundo. Muita gente usa do
vitimismo para obter aceitação e reconhecimento. No entanto isso
funciona muito pouco, ou funciona apenas no começo. A tendência é que as
pessoas comecem a perceber esse padrão e se afastem com o tempo,
deixando a vítima cada vez mais isolada, o que a fará sentir ainda mais
como uma vítima. Ela então precisará encontrar novos círculos para
realizar o mesmo processo.
Muitas pessoas que agem
dessa forma, inconscientemente começam a se isolar como forma de evitar
relacionamentos e ter que fazer coisas contra a sua vontade. Viver a
vida sem colocar limites acaba levando a tristeza, ansiedade e
depressão.
Conforme citei no inicio
do texto, a dificuldade de dizer não pode estar em vários níveis,
variando de pessoa para pessoa. Tem esse tipo de caso que relatei onde a
pessoa acumula raiva até explodir. Tem outros casos também de pessoas
que dizem não na hora em que recebem um pedido que acham injusto, mas o
fazem de forma raivosa ou agressiva. É a sua defesa para esconder a
insegurança que carregam. O “não” poderia ser dito de forma firme e ao
mesmo tempo educada, sem qualquer tipo de desconforto por alguém que
fosse mais seguro. Existe ainda aquele tipo que parece que nunca fica
com raiva, nem mesmo com o acúmulo de situações. Prejudicam muito a sua
própria vida. É nessas pessoas que a insatisfação provocada irá
causar mais intensamente quadros de depressão e ansiedade.
Comecei a refletir sobre o
seguinte. De vez em quando me pego irritado quando alguém me solicita
algo que não considero razoável, ou testemunho amigos comentando coisas
que indicam sentimentos parecidos. Comecei então a desenvolver o
seguinte pensamento: Qualquer um tem o direito de pedir o quiser, quando
quiser, e eu tenho que estar preparado para isso aprendendo a negar e
colocar os limites de forma firme e sem me alterar. Se eu fico com raiva
ou irritado, sei que faz parte da minha insegurança e não adianta
culpar a outra pessoa pois isso seria vitimismo.
Não saber colocar limites
e dizer não é uma grande prisão porque ficamos dependendo do
comportamento do outro para ficar em paz. É uma insanidade ficar
reclamando e dependendo do comportamentos dos outros. E quantas pessoas
vivem falando sobre o quanto o mundo é injusto e sem noção? O que causa
o sofrimento não é o pedido absurdo da outra pessoa. Sofremos quando
nós acatamos contra a nossa vontade ou quando reagimos de forma
irritada. Deixe o outro ser como quiser, e aprenda a dizer não quando
achar que deve. Isso sim o deixará em paz.
Outra coisa comum é que a
pessoa começa a prejudicar seus relacionamentos mais íntimos pois está
sempre a disposição dos pedidos de outros mais distantes. Programas são
desmarcados, mudanças de planos ocorrem de ultima hora... Logicamente
isso causa desentendimentos familiares.
O mais interessante é
que essas pessoas querem contar com compreensão da sua família; querem
apoio para manter o seu comportamento subserviente com relação a
terceiros. É como se dissessem “eu quero que você compreenda que eu não
consigo dizer não para outras pessoas, e já que temos mais intimidade e
sei que você me ama, você entenderá melhor se eu cancelar ou alterar o
nosso programa pra que eu possa atender a outra solicitação. Por favor,
compreenda isso e não brigue comigo, pois eu não posso contar com essa
compreensão do outro lado e você sabe que tenho medo da rejeição, de não
ser aceito, de perder minha imagem de bonzinho...”. Os familiares ficam
magoados, sentem como se todo mundo fosse mais importante e que a
relação mais próxima não está sendo valorizada, por que é exatamente
isso que está ocorrendo. Se aceitamos esse tipo de comportamento,
estaremos formando uma aliança que dá suporte ao subserviente.
Por trás da dificuldade
em dizer não podemos citar vários sentimentos negativos relativos a
autoestima: medo da rejeição, medo de não ser aceito, necessidade em ser
reconhecido e valorizado. Existe uma ilusão de que isso será benéfico e
que a pessoa será bem vista. Mas ocorre justamente o contrário. Quanto
menos damos limites, mais as pessoas nos desvalorizam. Parafraseando
Gaspareto, “o mundo lhe trata como você se trata”. É uma grande verdade.
Quem vive nesse padrão dificilmente percebe isso e com o passar do
tempo desenvolverá o discurso de que o mundo é um lugar cruel.
Quem sabe impor limites
se liberta de muita ansiedade, acumula menos trabalho, melhora as
relações em todos os níveis, se relaciona melhor e é mais respeitado.
Assim como qualquer outro
padrão emocional negativo, podemos tratar esse tema com a EFT. O
caminho mais profundo para tratar essa questão é fazer a limpeza
emocional de eventos que contribuíram para autoestima baixa: rejeições,
perdas, culpas, mágoas e etc... Vou também sugerir uma essência floral
que trabalha esse padrão: Centaury. Nesse link você poderá obter a
descrição desse floral e o que ele trata:
Abraços,
André Lima
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