sábado, 23 de janeiro de 2010
O GRANDE SEGREDO
Filosofia versus O segredo da humanidade
A contraposição da abordagem filosófica às idéias do livro O segredo, que sugere uma verdade sobre como o homem deve agir
POR IVO JOSÉ TRICHES
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Inicialmente, poderíamos nos questionar: mas afinal o que é a Metafísica? Qual a relação que há entre o que escreveu Rhonda Byrne em seu livro O segredo e a Metafísica, como uma forma de pensar própria da Filosofia?
Do ponto de vista etimológico, esse conceito não oferece grande dificuldade de compreensão. Com os conceitos Metà tà Phiysiká, Andrônico de Rodes1 quis referir-se aos livros de Aristóteles, que vêm depois da Física.
Desse modo, podemos dizer que a Metafísica é o estudo daquilo que vai além da Física. Aristóteles a chamou de Filosofia Primeira, porque, como nos diz Nicola Abbagnano, no seu Dicionário de Filosofia, ela é "a ciência primeira, isto é, a ciência que tem como objeto próprio o objeto comum de todas as outras e como princípio próprio um princípio que condiciona a validade de todos os outros".
Essa tese se sustenta na seguinte proposição: a Metafísica tem por finalidade o estudo das causas primeiras e a busca de uma verdade que seja necessária e universal - no sentido de saber se é possível existirem coisas que foram, são e serão assim; e, ainda, que não podem ser de outro modo. Por exemplo: o princípio da não-contradição de Aristóteles2 não deixa de ser uma forma de pensar própria da Filosofia.
E por quê? Porque, ao longo da tradição filosófica ocidental, várias foram as contribuições acerca deste tema - a verdade -, com afirmações bem diferentes uma das outras. Isso ocorreu à medida que um filósofo ia sucedendo o outro.
Na Filosofia, as coisas funcionam mais ou menos assim: o filósofo que surge acrescenta algo ao que já existe. É por isso que novas verdades vão surgindo, suplantando muitas que pareciam intocáveis.
Assim, podemos dizer que, observando as diferentes definições de Metafísica e as finalidades a que ela deveria se ocupar, nós não encontraremos, nos discursos dos mais diferentes filósofos que refletiram sobre ela, uma postura que remeta à expressão: Pense isso. Porque a Filosofia é, antes de tudo, um Pense nisso e não um Pense isso.
Pelos ditames da "Lei da Atração", invocada no livro de Rhonda Byrne, os pensamentos têm o poder de atrair para o indivíduo aquilo em que ele se concentrar, tanto para o lado bom como para o ruim
A Filosofia é um conhecimento aberto. Assim, podemos dizer que ela é movimento. É a procura amorosa da verdade, nunca a sua posse definitiva. Por isso, ela nasceu já acompanhada da humildade3. Conta-se que as pessoas se dirigiam a Pitágoras dizendo: "Você é um sophos (sábio)! Você realmente sabe muito!" E ele teria dito: "Eu não sou um sophos, sou apenas um filósofo!". Em outras palavras, ele não se julgava o portador da verdade, mas, ao contrário, dizia que estava sempre buscando chegar mais próximo dela (olho). Sobre isso também aprendemos com Sócrates, que, parafraseando Pitágoras, teria dito: "Sei que nada sei". Frase esta que sempre é lembrada por muitos de nós. Por isso, dizemos que foi Pitágoras quem, pela primeira vez, teria utilizado esse conceito na Filosofia.
Ao ler O segredo, descobrimos um livro pautado numa tese fundamental, qual seja, na idéia do Pense isso e não no Pense nisso. Caracterizando-se, portanto, como sendo um conteúdo altamente ideológico, no sentido marxiano4 e gramsciano5 do conceito.
1 Pensador romano do século I a.C, a quem foi confiado que organizasse as obras de Aristóteles quando as mesmas foram apropriadas por Silas no ano de 86 a.C. e levadas de Atenas para Roma.
2 Dois homens não podem ocupar o mesmo lugar no mesmo tempo e espaço.
3 Pela sua etimologia, vemos que esse conceito tem sua origem no latim, significando: humus = solo, terra; ildade = disciplina. Daí afirmarmos que o humilde é aquele que procura manter os pés no chão. O contrário do arrogante, do soberbo que julga já possuir a verdade sobre tudo.
4 Por marxiano no referimos ao próprio pensamento de Karl Marx (1818-1883).
5 Antonio Gramsci (1891-1936) pode ser considerado um pensador marxista autêntico porque interpretou de modo original o pensamento marxiano. Suas maiores contribuições são do período que esteve preso (1926-1936). São famosos os chamados Cadernos do Cárcere, em que a Educação e a Política ocupam um papel de destaque.
LEI DA ATRAÇÃO
Para esses autores, a Ideologia se constitui num corpo de idéias muito bem arquitetado e busca dar sustentação a uma determinada realidade. Por isso, eles diziam que, de modo geral, as idéias da classe dominada são as idéias da classe dominante. Porém, Antonio Gramsci defendia a tese de que, com a ajuda dos Intelectuais orgânicos, a classe dos debaixo poderiam elaborar uma contra-ideologia capaz de fazer frente à ideologia dos de cima.
Ao analisarmos mais à frente trechos de O segredo, evidenciamos que há, claramente, uma tentativa de universalização de um conjunto de idéias, em que os privilégios dos de cima permanecem intocáveis. Passemos agora a conhecer os aspectos gerais de sua obra.
Antes de fazer, propriamente, alusão àquilo que é objeto central desta reflexão - que é tentar desconstruir e mesmo desvendar o que há de subjacente em O segredo -, far-se-á, mesmo que de forma breve, uma descrição acerca do que trata a obra. O livro de Rhonda Byrne é posterior ao filme O segredo, que a autora resolveu produzir para revelar ao mundo aquilo que ela considera o grande segredo da humanidade: a lei da atração. Nas palavras da autora: "Tudo o que entra em sua vida é você que atrai, por meio das imagens que mantém em sua mente. É o que você está pensando. Você atrai para si o que estiver se passando em sua mente".
De acordo com Byrne, ao longo da História, grandes homens e mulheres obtiveram sucesso e mudaram os rumos da humanidade e de suas vidas, porque eram detentores desse conhecimento. Tamanho é o poder da lei da atração, que ela foi mantida em segredo, sendo descoberta por uns poucos privilegiados como Platão, Galileu, Beethoven, Einstein, entre outros.
Depois dessa descoberta (feita por acaso), a autora conta que decidiu buscar na contemporaneidade outros homens e mulheres conscientes do "segredo" e dispostos a partilhá-lo. Colheu depoimentos de "grandes mestres da atualidade" (de acordo com a autora), como Bob Proctor e outros palestrantes, filósofos e empresários que acreditam que o grande segredo para a riqueza, a felicidade, a saúde, o sucesso, longevidade é muito simples: a lei da atração - você atrai para si tudo aquilo em que se concentra.
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No detalhe da pintura A Escola de Atenas, de Rafael Sanzio, é possível observar Aristóteles, o pai da Metafísica, com a sua mão voltada para baixo, representando a racionalidade, e Platão, seu professor, com as mãos para cima, representando o mundo das idéias
De acordo com o livro, a lei da atração baseia-se na idéia de que nossos pensamentos emitem uma freqüência captada pelo universo. Atrairemos, dessa forma, aquilo em que nos concentrarmos, conscientes ou não de tal fato.
Recheando a sua exposição com depoimentos de contemporâneos que comungam da mesma tese, Byrne afirma, categoricamente, que qualquer pessoa pode conseguir qualquer coisa, ou seja, basta se concentrar e o universo responderá às vibrações de seu pensamento.
De acordo com a autora, não se trata apenas de pensamento positivo. A lei da atração é mais profunda que isso: seus pensamentos atrairão aquilo em que você se concentrar; então, se ficar preocupado com a obesidade, seu pensamento produzirá certa freqüência e você atrairá mais obesidade para sua vida.
Também não basta, segundo Byrne, pensar em coisas boas; é preciso visualizá- las, agir como se elas já estivessem ali e, assim, é possível conseguir tudo que se quer. Como se o universo atendesse às nossas solicitações. Uma idéia que, conforme afirma a autora, não é nenhuma novidade, já estava na Bíblia: "Pedi e recebereis".
A credibilidade conquistada por Byrne se deve ao fato de embasar suas afirmações com explicações retiradas, não da astrologia, do esoterismo ou da religião, mas de ciências como a Física, a Química - áreas de grande credibilidade em nossa sociedade. Ao explicar "cientificamente" a lei da atração, a autora conquista a confiança dos leitores.
O PRISMA IDEOLÓGICO
Voltemos à tese, qual seja, a proposição de que esse livro foi construído no sentido de ser um Pense isso, daí seu caráter ideológico.
Partindo da falácia Ad verecundiam (apelo à autoridade) - já conhecida na História da Filosofia pelo que se convencionou chamar de Lógica não Formal -, a autora reproduz, logo no início do livro, um argumento tão difundido na cultura norte-americana: a idéia da riqueza fácil. Citando Bob Proctor, que diz: "Por que você acha que 1% da população ganha cerca de 96% de todo o dinheiro que circula? Você acha que isso acontece por acaso? Isso é planejado assim. Esse 1% entende algo. Eles entendem 'o segredo', e agora, você está sendo apresentado a ele".
Qual é a intencionalidade subjacente a tal afirmação? Por que logo depois de revelar "o segredo", a autora procura enfatizar a idéia de que é possível obter riqueza facilmente, bastando conhecer tal segredo?
Ora, somos sabedores de que vivemos numa sociedade em que a riqueza súbita é desejada por muitos; em que o que vale não é nem tanto o novo, mas sim a novidade; onde o caráter pragmático da cultura norte-americana é difundido de todas as formas possíveis - e esse livro é mais uma evidência disso. Percebe-se, claramente, que uma das dimensões ideológicas dessa obra reside no fato de que basta eu acreditar e pensar que ficarei rico, e isso ocorrerá inexoravelmente.
Essa maneira é própria da cultura norte-americana, na qual a lógica do consumo é altamente difundida. Assim, esse tipo de discurso encontra terreno fértil para se reproduzir6.
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Cena do filme O Segredo: Considerado por boa parte da crítica como uma espécie de "documentário de auto-ajuda", traz depoimentos de escritores, pesquisadores e filósofos que defendem a existência de um segredo milenar, conhecido por alguns dos líderes da humanidade, nunca antes revelado, e que pode ser a chave para o sucesso
O interessante é observar que o caráter histórico em que os atores sociais estão inseridos não é levado em consideração pela autora. Outro aspecto a ser destacado é que o que está oculto (daí seu caráter ideológico) é a idéia de que eu poderei ter tudo o que quiser mesmo que seja de forma solipsística7. Fica tudo muito relegado à subjetividade. Isso fica evidente na seguinte afirmação da autora: "Agora você está conhecendo 'o segredo', e com esse conhecimento poderá mudar tudo". A tese marxiana de que podemos mudar a História, mas, se desejarmos mudá-la, a luta necessita ser coletiva, é aqui ignorada. Essa afirmação de Byrne evidencia, ao nosso entendimento, que há um dogmatismo obscurantista presente no seu livro. Tenta nos fazer acreditar que, sozinhos, podemos mudar o rumo da nossa vida e da humanidade. Ela escreve sobre o homem como se cada um fosse uma subjetividade isolada no cosmos e não se construísse a partir das relações com os demais atores sociais. A tese freirena, de que ninguém educa ninguém, que ninguém se educa sozinho, mas que nós nos educamos pela mediação pedagógica e ainda mediatizados pelas condições históricas em que estamos inseridos, é, aqui, totalmente desprezada, ignorada.
CONTRADIÇÕES
Por outro lado, esse "segredo" - lei da atração - poderia ser também questionado da seguinte forma: como explicar, por exemplo, tragédias coletivas? Todos os envolvidos estavam vibrando na mesma "freqüência" trágica? E a sobrevivência de um suicida? A vibração de seu pensamento foi tão positiva no momento em que ele tentava tirar a própria vida a ponto de conseguir preservá-la?
Podemos, ainda, afirmar que é possível entender que esse "determinismo psíquico" presente em O segredo constitui- se numa hetero-ajuda8, no sentido de que, para buscar melhorar meu endereço existencial, necessito buscar essas idéias que são exteriores a mim, sendo ela, Rhonda Byrne, a grande reveladora e porta-voz das mesmas.
O caráter significativo do escolher-se de Sören Kierkegaard (1813-1855) é aqui ignorado. Por isso, a autora de O segredo produz, com sua obra, a morte da Filosofia, à medida que o pense isso é mais importante do que o pense nisso.
O pensamento de Espinosa9 (1632- 1677) também contrapõe o determinismo presente em O segredo. Para o pensador, todos os elementos presente na Natura Naturada - materialização da Natura Naturante - são portadores de um conatus.
6 Como somos altamente influenciados pela cultura norte-americana e vivemos em tempos de globalização de quase tudo, isso acaba se reproduzindo por aqui com muita facilidade também. No meu entendimento, é uma verdadeira "praga daninha" porque não favorece a cultura do cooperativismo, da comensalidade.
7 Derivado do conceito Solipsismo. Na Filosofia corresponde a idéia de que só existe o Eu. Os outros entes ou mesmo os demais seres humanos são apenas coisas. Há uma outra forma mais indica para designar este mesmo conceito que é egoísmo. Também pode significar, dependendo contexto, aquele que deseja viver só. Que pensa que é uma ilha. No entanto, Aristóteles logo no início de sua obra A Política, afirma que o homem por natureza é Zoon Politikón, ou seja, animal político que só consegue se construir (existir) a partir da relação com o outro.
8 O conceito comumente utilizado nesse tipo de literatura é o de auto-ajuda. Contudo, aprendi com um amigo, grande filósofo, prof. Cláudio Joaquim Rezende, que o politicamente correto é eu dizer que essa forma de escrever da autora caracteriza-se por ser uma hetero-ajuda. Isso porque remete à busca da solução de um problema existencial fora da pessoa. Procuram-se receitas prontas. Ocorre quando não se faz uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto, das condições que levam a tal problema existencial e passa-se a seguir algo pronto, acabado, razão pela qual poucas vezes produzem os efeitos desejados. O objetivo, aqui, é desmascarar o termo auto-ajuda. É uma atitude iluminista demonstrar que o termo esconde uma cilada na medida em que dá a entender que a pessoa está se ajudando, quando, na verdade, ela está sendo induzida a pensar de uma determinada forma. Além disso, traçar tal diferença é convidar as pessoas para serem autônomas e não heterônomas.
9 Baruch Espinosa (Spinoza) viveu em Amsterdã, na Holanda. Estudou junto com a comunidade rabínica e, em 1657, ele foi vítima do HEREM, ou seja, foi excomungado da comunidade judaica. Converteu-se ao cristianismo e novamente foi expulso. Hoje vem sendo objeto de estudo de vários intelectuais no mundo inteiro. No Brasil, certamente, uma das filósofas que mais estudou e vem estudando esse pensador é Marilena Chauí.
No Dicionário Latino-Português de Raulino Bussarello, conatum significa "esforço", "tentativa". Esforço ou tentava do quê? Para Espinosa, o conatus consiste no esforço contínuo, na luta pela existência. Por isso, podemos dizer que o conatus é uma força intrínseca que nos chama para a vida. Ninguém deseja conscientemente morrer. Lutamos continuamente para nos manter vivos. "Isso vale tanto para nós humanos quanto para os demais seres existentes no universo", diz ele.
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Para Byrne, a lei da atração está sempre agindo em todos nós, assim como as leis naturais da gravitação, e da ação e reação. Por meio dela, pode-se conseguir o enriquecimento rápido
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Tio Sam, símbolo do poder do capitalismo norte-americano: contida na teoria de Byrne, a idéia da riqueza fácil está fortemente arraigada à cultura dos Estados Unidos
Nos dias atuais, um mal existencial que vem sendo muito divulgado e mesmo estudado é a depressão. Podemos afirmar que alguém que se encontra nesse endereço existencial de sofrimento é alguém que está com seu conatus enfraquecido.
Para Byrne, a solução para a depressão passa pela lei da atração. Assim nos diz ela:
"Você possui dois conjuntos de sentimentos: os bons e os maus. E sabe a diferença entre os dois porque um faz você se sentir bem e o outro faz você se sentir mal. É a depressão, a raiva, o ressentimento, a culpa. Esses sentimentos não fazem você se sentir fortalecido. São os maus sentimentos". Mais adiante, reafirma: "A coisa mais importante que você deve saber é que é impossível sentir- se mal e, ao mesmo tempo, ter bons pensamentos. Isso desafiaria a lei, porque seus pensamentos produzem seus sentimentos. Se você está se sentindo mal, é porque está tendo pensamentos que estão fazendo você se sentir mal".
Muito embora a teoria das paixões da tristeza e das paixões da alegria de Espinosa possua certa semelhança com a teoria do livro em questão, quando analisada de modo mais profundo vemos que são coisas bem distintas. Para ele, as paixões da tristeza podem ser consideradas como paixões fracas. Isso porque elas, uma vez existindo em nós, enfraquecerão o nosso conatus. Ao passo que as paixões da alegria são consideradas paixões fortes, justamente por serem opostas às da tristeza. Como exemplos de paixões da tristeza, podemos citar a inveja, o ciúme, a mágoa o ódio e o vício. Já no que tange as da alegria, temos a bondade, a amizade, a beleza, o perdão e a virtude entre outras. Mas afinal, o que isso tem de diferente da teoria de Byrne?
Para respondermos a essa questão, necessitamos compreender o conceito de Ética10 para Espinosa. Ele nos diz que nosso conatus não vive de forma solipsística. Não há como não estabelecermos relações com o conatus dos demais seres existentes na natureza. Todo encontro intersubjetivo acaba sendo um encontro de conatus.
10 Uma de suas principais obras é justamente esta chamada Ética.
Se na relação que estabeleço minha intenção é tentar ceifar o conatus do outro, então este "outro" virá de encontro ao meu conatus. Você deve estar se perguntando: e o que isso significa? Significa que ele tentará fazer de tudo para enfraquecer o meu conatus porque, em última instância, ele também deseja que o seu continue a existir.
O PAPEL DA ATITUDE
No entanto, se assim agirmos, a Ética estará longe, uma vez que, segundo Espinosa, ela consiste na luta constante para que ambos os conatus possam continuar existindo em uma determinada relação. Em outras palavras, se faço o bem, recebo o bem, não apenas porque meus pensamentos são bons, mas porque, à medida que faço o bem, você terá seu conatus fortalecido; conseqüentemente, desejará também fortalecer o meu, razão pela qual teremos como resultado o fortalecimento recíproco dos conatus.
Um exemplo que certamente nos ajudará a entender melhor a questão acima é o contraponto que podemos fazer entre o educador brasileiro Paulo Freire e os traficantes de modo geral. Para os educadores que conheceram Freire pessoalmente, ou já leram algo sobre o pensamento dele, não haveria dificuldade de entrar em consenso acerca de suas intenções, qual seja, de que sua grande missão consistiu numa luta contínua para o fortalecimento do conatus da coletividade em geral. Por isso, ele está imortalizado na alma de tantos de nós. A maioria que conhece sua teoria percebe que ela nos fortalece no tocante à esperança de dias melhores para todos pela ajuda que a Educação pode nos facultar. Por isso, ele é amado por tantos atores sociais neste país.
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Tragédias coletivas: Fenômenos que, de certa forma, possibilitam o questionamento da "Lei da Atração". Em casos como esses, estariam todas as vítimas vibrando, simultaneamente, na mesma freqüência trágica?
No entanto, não podemos dizer o mesmo dos traficantes. Suas escolhas vão no sentido do enfraquecimento do conatus de todos aqueles que se envolvem na dependência química. Por essa razão, eles são vistos como pertencentes ao "eixo do mal". Sempre que podem - estando numa posição de segurança -, as pessoas de bem procuram denunciá-los tentando afastá- los uma vez que com suas ações enfraquecem o nosso conatus.
REFERÊNCIAS
GIOVANI, Reale. História da Filosofia: Filosofia Pagã e Antiga. V.I / Giovane Reale, Dario Antiseri; (tradução Ivo Storniolo). São Paulo. Paulus, 2003.
MONDIN, Batista. Curso de Filosofia. V. I;(tradução Bênoni Lemos). São Paulo. Paulus, 1981(Coleção Filosofia).
CHAUÍ, Marilena. Espinosa, uma Filosofia da Liberdade. São Paulo. Ed. Moderna. 2001.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Editora Mestre Jou. São Paulo. SP. 1982.
SPINOSA, Baruch de. Ética. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo. Ed. Tecnoprint (Ediouro).
RHONDA, Byrne. O Segredo. Ed. Ediouro.
Ivo José Triches é especialista em: Pensamento Contemporâneo pela PUC-PR; Filosofia Política pela UFPR e Filosofia Clínica pelo Instituto Packter; Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC; Professor e Membro do Conselho Gestor do ITECNE em Curitiba, PR. e-mail: ivo@itecne.com.br
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