A física quântica e as tradições espirituais
Dr. Antônio Ricardo Nahas
O diálogo entre a ciência e as tradições espirituais pode ser muito rico desde que cada uma se mantenha numa postura de humildade e respeito. A ciência tem suas metodologias e normas, assim com as tradições espirituais também têm as suas. Uma trabalha no nível da racionalidade e da lógica e a outra no nível da intuição e do amor. A ciência se preocupa com os fenômenos objetivos e materiais e as tradições místicas com a dimensão subjetiva e espiritual. Ambas são importantes. Uma não deve se tornar a outra. Mas o diálogo é fundamental porque o homem precisa das duas.
Há alguns anos venho estudando a mecânica quântica assim como diferentes tradições místicas. Não concordo quando muitos tentam reduzir uma coisa à outra. O reducionismo é perigoso, pois ele não aborda a complexidade dos fenômenos na sua totalidade.
Mas isso não me impede de fazer reflexões sobre os possíveis pontos de contato. Um exemplo disto é a não-localidade quântica, que nos diz que todas as partículas do universo estão conectadas por campos sutis de energias de elevada freqüência vibratória. Isso quer dizer que o que acontece no outro lado do universo pode interferir no que está acontecendo por aqui, em velocidades muito maiores do que a da luz. Para a maioria dos físicos, isso é pura metafísica. Mas um pouco de metafísica não faz mal a ninguém. O que a não-localidade tem a ver com as tradições espirituais?
A resposta não é tão complicada. Se nossos corpos são feitos de partículas e nosso cérebro funciona através de mensagens químicas e elétricas, e ainda, se os elétrons sentem o que acontece com os outros, mesmo que infinitamente distantes, é lógica a conclusão de que nosso sistema mente-corpo está conectado ao universo como um todo. Existe uma interdependência e uma conexão que transcendem os limites espaço-temporais. Não seria essa a mensagem que muitas tradições estão tentando nos passar a anos? O amor não seria o reconhecimento dessa interconectividade e dessa interdependência de tudo? É claro que cada um é um. Somos seres distintos, mas não separados. O reconhecimento disto pode nos levar a uma profunda mudança na maneira de ver as coisas. Se todos somos parte de uma imensa rede de conexões energéticas sutis, o que fazemos se repercute nas galáxias. A responsabilidade pelas nossas ações se torna ainda maior. A ética, a solidariedade e o amor nada mais são do que o reconhecimento dessa responsabilidade na consciência de que tudo é uma unidade.
Muitos poderiam dizer: “tudo isso não passa de um desejo narcísico de reestabelecer o vínculo simbiótico com a mãe nos primeiros meses de vida”. Eu concordo com esta possibilidade. Mas não podemos nos esquecer que a natureza também é nossa mãe. E reconhecer que tudo no universo se conecta e interage, numa grande teia de relações, é também reconhecer a importância da compaixão e do amor por tudo que nos cerca. O amor é a vivência desta unidade na multiplicidade, da união no meio das diferenças. Somos seres de natureza não-local. Somos o universo nas profundezas do nosso ser. Não precisamos de naves ou foguetes, mas sim, de mais humildade e mais amor, para iniciarmos a grande viagem em direção ao “Caribe” interior.
Psicoterapeuta
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
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