:: Elisabeth Cavalcante ::
Todos aqueles que se iniciam no caminho do autoconhecimento e chegam à prática da meditação sabem que a mente é o principal obstáculo nesta jornada.
Rapidamente descobrem que quanto mais lutam para silenciá-la, mais forte a torrente de pensamentos se apresenta. Alguns mestres do Oriente costumam dizer que a mente é um cavalo selvagem, impossível de ser domado, pois, quanto mais tentamos ter domínio sobre ele, mais ele se rebela e foge de nosso controle. Como fazer, então, para conseguir que o fluxo de pensamentos silencie? A mente é especialista em truques, por essa razão precisamos recorrer ao mesmo método para fazer com que ela deixe de estar no comando. O segredo é parar de dar energia à mente, e isto só é possível quando mudamos o foco de nossa atenção. Ao invés de nos identificarmos com os pensamentos, emitindo julgamentos sobre eles, devemos assumir a postura do observador sentado à beira de uma estrada, olhando os automóveis que passam. Ele está ali, simplesmente, sem qualquer identificação com o que vê. Este exercício, quando praticado continuamente, fará com que os pensamentos se tornem cada vez mais escassos, até que desapareçam e fique em seu lugar apenas o silêncio, o vazio. É neste momento que uma nova dimensão de nosso ser começa a ser tocada, sem que seja necessário qualquer esforço ou luta. O relaxamento total e a ausência de expectativas e desejos é o segredo para que adentremos na dimensão da consciência. Aos poucos, este estado de paz se tornará cada vez mais constante e os insights intuitivos passarão a fazer parte de nosso cotidiano, algo natural, como sempre deveria ter sido. A única maneira de se libertar do sofrimento, é entender que a mente e o ego são aspectos de nossa natureza sobre os quais precisamos ter total domínio, e não o contrário. Mas isto só será possível se nos dispusermos a assumir a posição de mestres de nós mesmos, sem depender de mais ninguém. "...Seus pensamentos têm de compreender uma única coisa: que você não está interessado neles. No momento em que você tiver firmado isso, você terá alcançado uma grande vitória. Simplesmente observe. Não diga nada aos pensamentos. Não julgue. Não condene. Não os mande embora. Deixe-os fazer o que quer que estejam fazendo, qualquer ginástica - deixe-os fazerem; você simplesmente observa e desfruta. Trata-se de um belo filme. E você se surpreenderá: simplesmente observando, chega um momento em que os pensamentos não mais estarão presentes, não haverá nada para observar. Essa é a porta que tenho chamado de nada, de vazio. Por essa porta entra o seu ser verdadeiro, o mestre. E esse mestre é absolutamente positivo; em suas mãos, tudo se transforma em ouro. ...Assim, você não pode fazer nada diretamente com a mente. Você terá que dar umas voltinhas; primeiro você tem de trazer o mestre para dentro. Está faltando o mestre e, durante séculos, o serviçal pensou que ele era o mestre. Simplesmente, deixe o mestre entrar e o serviçal, imediatamente, compreenderá. Basta a presença do mestre e o serviçal cai aos pés do mestre e espera por alguma ordem, qualquer coisa que o mestre queira que seja feito - ele está pronto. A mente é um instrumento tremendamente poderoso. Nenhum computador é tão poderoso quanto a mente do homem - não pode ser, porque ele é feito pela mente do homem. Nada pode ser, porque tudo é feito pela mente humana. Uma única mente humana tem tão imensa capacidade: num pequeno crânio, um cérebro tão pequeno, pode conter todas as informações contidas em todas as bibliotecas da Terra - e essa informação não é tão pequena assim. ...Mas o resultado desse imenso presente ao homem não tem sido benéfico - porque o mestre está ausente e o serviçal está comandando o espetáculo. O resultado é guerras, violência, assassinatos, estupros. O homem está vivendo num pesadelo, e o único meio de sair disso é trazer o mestre para dentro. Ele está aí, você tem apenas de puxá-lo para si. E a observação é a chave: simplesmente observe a mente. No momento em que não houver nenhum pensamento, imediatamente, você será capaz de se ver - não enquanto mente, mas como algo além, algo transcendental à mente. E uma vez que você esteja sintonizado com o transcendental, então, a mente está em suas mãos. Ela pode ser imensamente criativa. Ela pode fazer, desta própria Terra, o Paraíso. Não há nenhuma necessidade de qualquer Paraíso a ser procurado lá em cima nas nuvens, assim como não há necessidade de se procurar por qualquer inferno - porque o inferno nós já o criamos. Estamos vivendo nele. ...As pessoas ainda continuam pensando que o inferno está em algum outro lugar, debaixo da Terra - e você está vivendo nele... Você pode transformar este inferno em céu se a sua mente puder estar sob a direção do mestre, de sua própria natureza. E trata-se de um processo simples... Mas não tente diretamente com a mente, caso contrário, você estará entrando numa encrenca. A pessoa pode até entrar na insanidade... Não toque na mente. Primeiramente, apenas descubra onde está o mestre... Deixe o mestre estar presente e a mente funciona como um serviçal, muito perfeitamente. No Oriente, nós fizemos isso. Gautama, O Buda, poderia ter-se tornado Albert Einstein sem nenhuma dificuldade; ele era um gênio muito maior. Mas toda a sua vida foi devotada à transformação das pessoas, para dentro da consciência, para dentro da compaixão, para dentro do amor, para dentro da bem-aventurança". OSHO - The Osho Upanishad. |
quinta-feira, 21 de junho de 2012
segunda-feira, 18 de junho de 2012
O SIMBOLISMO DA ÁGUA
Autor: Hugo Lapa (Atendimento com terapia de vidas passadas)
A água é uma substância formada pela combinação de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio. A água é, portanto, formada por dois gases. Ela pode se apresentar no estado sólido, líquido e gasoso. O estado líquido, porém, é o mais abundante no mundo. A água é tão essencial a vida que, caso a água desaparecesse do planeta Terra, nenhum ser vivo poderia manter-se existindo.
A água era considerada um dos quatro elementos fundamentais no mundo antigo, dos quais tudo o que existe teria procedência. A importância da água pode ser verificada nas ideias do filósofo Tales de Mileto, que dizia que “tudo é água” e “tudo começa na água”. Tales inaugurou a tendência filosófica que buscavam entender a chamada physis, um conceito que significa natureza, mas que depois foi traduzida como “física”, por ser o conhecimento que buscava explicar a origem das coisas do mundo.
O simbolismo da água é bem vasto, assim como o simbolismo de todos os outros elementos. Na antiguidade, ela estava associada ao começo do mundo. Em Gênesis, “o espírito de Deus pairava por sobre as águas” (GN 1:2). Ela era considerada as águas primordiais, de onde tudo surgiu. Ela também foi associada ao caos primordial, o meio líquido que originou todas as coisas. Esse simbolismo das águas primordiais, ou do “oceano das origens” é praticamente universal, sendo encontrado em dezenas de culturas arcaicas.
O aspecto gerador da água encontra correspondência no útero materno, quando um novo ser está em gestação. Nesse sentido, encontramos o líquido amniótico, que é o meio líquido que abriga o surgimento de uma nova vida, um novo nascimento.
Na mitologia egípcia, o monte primordial surgiu das águas primordiais. Na tradição indiana, a água é o veículo do chamado “ovo do mundo”, o meio que gerou todo o mundo. De acordo com este significado, a água representa o meio através do qual todas as coisas surgiram. Ela foi, dessa forma, uma matéria prima para a criação do mundo, ou pelo menos um dos meios pelos quais o mundo pôde ser gerado. Nesse sentido, a água se apresenta como a fonte de onde tudo proveio, o embrião original.
De acordo com Chevalier & Gheerbrant, a água é o símbolo da infinitude dos possíveis, ou seja, ela é o potencial que guarda, em estado latente, todas as possibilidades. Os textos hindus clássicos afirmam que “tudo era água” no início, indicando a água como a matéria-prima original. Aqui a água simboliza um inesgotável reservatório de energia primeva de onde tudo brotou. A ciência moderna considera que a vida na Terra começou primeiro na água, com o desenvolvimento dos primeiros seres aquáticos que posteriormente foram deixando os mares e iniciando sua existência na terra e no ar. Assim, o simbolismo da água com o significado do germe da vida encontra eco nas pesquisas científicas.
A água primordial, no entanto, não é a água física, mas um elemento sutil sem início nem fim. Os textos hindus deixam claro que, para que exista esse potencial formativo, é preciso não haver limites. Por isso, diz-se no Taoísmo que “as vastas águas não tinham margens”. Ainda dentro desse sentido gerador, a água representa a fertilidade, a fecundidade, a boa colheita, o crescimento da semeadura.
Diferentemente da terra e do ar, o fogo e a água são considerados agentes de transformação do mundo. Nesse sentido, a água possui uma estreita relação com o simbolismo da lua, que muda constante e periodicamente. Diz-se que as marés obedecem as fases da lua. No Tarot, a carta da lua aparece com uma poça de água no solo, indicando a associação que há entre ambas. A água é maleável, pode se adaptar a qualquer meio sólido, tomando a forma do lugar em que se encontre. Por isso se diz que ela seja um agente se transformação e adaptação ao novo.
Mesmo sendo a água fraca, maleável, fluida, ela pode, com o passar do tempo, até mesmo desgastar a rocha mais rígida, que não sabe ceder e permanece fixa e imóvel em seu lugar. Lao Tsé expressa divinamente o significado da água dentro de sua capacidade adaptativa e como isso pode servir de lição ao ser humano:
“A virtude verdadeira é como a água
Em silêncio se adapta, ao nível inferior
Que os homens desprezam
Ocupa os lugares mais baixos que os homens detestam.
Acomoda-se onde ninguém quer permanecer.
Serve a todos e a tudo, não exige nada.”
Mas o simbolismo da água encontra mais um significado que é praticamente universal: a água como um meio de regeneração. Essa representação é bem conhecida na passagem bíblica que cita o batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista. Não por acaso esse evento é reconhecido como o início do caminho messiânico de Jesus. João Batista acatou o apelo de Jesus para que o batizasse nas águas, mesmo acreditando que não era digno de batizar Jesus. Após a imersão na água, os evangelhos contam que uma pomba branca sobrevoou os céus, representando assim a liberdade do espírito conquistada após o ato. Nesse momento, Jesus teria sido regenerado em corpo, emoções e mente, e aberto as portas de sua consciência para sua missão. Aqui está bem caracterizado o simbolismo da água como meio de regeneração, ela cura, purifica e faz renascer.
Como diz Chevalier: “A imersão [na água] é regeneradora, opera um renascimento, por ser ela, ao mesmo tempo, morte e vida. A água apaga a história, pois restabelece o ser num novo estado. A imersão é comparável à deposição do Cristo no Santo Sepulcro: ele ressucita, depois dessa descida nas entranhas da terra. A água é símbolo da regeneração: a água batismal conduz explicitamente a um novo nascimento”. Aqui vemos a representação da água viva, da fonte da juventude.
A água também se expressa no seu ciclo universal. Ela vive nas entranhas da terra, brota para rios e lagoas e desemboca no mar. A água se liquefaz e se torna vapor. Sobe aos céus, se condensa em nuvens. As nuvens se agrupam e formam a nuvem de chuva, que se precipitam sobre o solo jorrando a água de volta à terra novamente em estado líquido. E posteriormente isso se repete infinitamente. Na descrição do ciclo da água vemos uma representação bastante clara do próprio ciclo da alma. A alma estava no mundo celeste, ao que se precipita e desce à Terra, para animar a matéria sólida. Ao término de sua missão, retoma o estado “gasoso” quando abandona o corpo e se assume novamente como espírito em ascensão aos céus. Vemos uma boa figuração da doutrina da reencarnação da alma expressa pelo ciclo das águas.
domingo, 17 de junho de 2012
Autor: Hugo Lapa (Atendimento com terapia de vidas passadas)
Desde muito tempo, podemos mesmo dizer vários milênios, a humanidade convive com um conhecimento esoterico reservado a um número seleto de indivíduos. Esse conhecimento é considerado sigiloso, secreto ou proibido às massas. A maioria das pessoas encontrar-se-ia ainda distante desse conhecimento. As organizações esotéricas ou iniciáticas sempre consideraram o segredo como algo de extrema importância; uma importância vital e essencial e obrigam discípulos a prestar votos solenes de sigilo do que veem nos templos ou na instrução direta da relação guru-discípulo.
Esse conhecimento foi denominado por vários nomes ao longo da história e sua existência é comum a praticamente todas as culturas antigas e modernas. Até mesmo a ciência atual se vale do sigilo em muitas circunstâncias, atualmente em pesquisas armamentistas, como tecnologias de destruição em massa, como a bomba atômica. Não há dúvida de que esse tipo de conhecimento deveria ser reservado apenas a pessoas de moral elevada; pessoas de bem e sem qualquer intenção de provocar estragos a grupos humanos, países ou a humanidade em geral.
Muitas pessoas que ficam sabendo desse conhecimento secreto têm muitas dúvidas do porquê de sua existência; algumas chegam mesmo a desejar adquirir esse saber, pois algo muito profundo deve estar escondido aí. Outras pessoas chegam mesmo a atacar os portadores dos “mistérios”, taxando todos eles de charlatões, embusteiros e gananciosos. Chega-se a acreditar que os iniciados nos mistérios formariam uma classe superior em nossa sociedade e usariam de artíficios políticos e ideológicos para esconder certas verdades das massas, tendo como único objetivo a preservação de sua condição de superioridade, possivelmente conferida pelos conhecimentos ocultos.
Por outro lado, os iniciados afirmam que o objetivo do sigilo não é a criação de uma elite, uma classe detentora de poder suficiente para dominar uma parte do mundo ou quase a sua totalidade. Muitos ocultistas defendem o sigilo como algo imprescindível no esoterismo e procuram justificar esses motivos de várias formas. Outros ainda afirmam que o mistério não é algo intencional, mas faz parte da própria realidade de uma sabedoria mais profunda. Em outras palavras, só existe o conhecimento oculto porque, dizem alguns iniciados, as pessoas comuns são incapazes de percebe-los. Caso possuíssem capacidades psíquicas desenvolvidas; caso sua moral fosse refinada; caso sua consciência fosse elevada; caso sua intenção fosse pura e cristalina, qualquer indivíduo teria acesso à sabedoria que jaz oculta no coração do cosmos. Assim, não há uma ocultação de conhecimentos especiais, há uma inabilidade de se percebe-los e compreende-los.
Dizem os iniciados que tudo está plenamente revelado. Um dos maiores iniciados que passou pela Terra, Jesus, o Cristo, disse isso em palavras extremamente simples e mesmo assim só pôde ser compreendido por poucos indivíduos. Jesus disse que sua mensagem era destinada àqueles que tinham “olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Com essa frase, Jesus deixa claro que o conteúdo dos seus ensinamentos não poderia ser compreendido por todas as pessoas, mas apenas aquelas que tivessem uma visão das coisas e uma capacidade de escuta mais profunda da vida. Há outra passagem onde Jesus faz uma referência mais explícita ao saber arcano. Diz ele aos seus discípulos: “A vós vos é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros apenas é dado conhecer por parábolas, para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam”. Fica claro nessa passagem que existiam duas formas de ensinar: uma aberta e pública, que qualquer pessoa poderia ouvir, ver e compreender. E outra mais restrita, onde apenas algumas pessoas seriam capazes de vislumbrar além do superficial e do aparente.
Nesta oportunidade vamos enumerar alguns dos principais motivos do sigilo, para que fique claro à maioria das pessoas que não são versadas em esoterismo e ocultismo:
1 – A primeira razão mais forte, já nos adiantamos nesse texto, é a clara noção de que o iniciado oculta o conhecimento pelo simples motivo de que o não-iniciado não poderia compreende-lo. De que adiantaria para um físico debater mecânica quântica com uma pessoa que nunca estudou qualquer noção básica de física? Para que possa existir algum entendimento a esse respeito, o iniciado deve modificar sua linguagem e adaptar certos conceitos dentro da realidade do leigo, transmitindo-o de modo que possa ser visualizado em parte através de meios não-técnicos. Assim, é importante enfatizar que o conhecimento é sempre transmitido de alguma forma, mas sempre de um modo acessível ao grau de consciência de cada indivíduo. Por este motivo, encontramos o saber oculto escondido em símbolos, alegorias, parábolas, mitos, contos de fadas, dentre outros. Jesus enfatizou a necessidade de se expressar em parábolas, pois essa era uma maneira de ser compreendido por todos. Como sua mensagem deveria ser universal, revestiu-se de um caráter simbólico, para que qualquer um pudesse ter acesso a ela, apesar de não conseguir entende-la prontamente, mas possivelmente após uma mais ampla reflexão. O mesmo ocorre quando um adulto se expressa para uma criança, principalmente ao falar de assuntos mais profundos. O universo psicológico infantil é rico em símbolos, as crianças soltam facilmente a sua imaginação e por isso, muitas vezes, entendem as coisas de uma forma diferente da forma do adulto. Por este motivo, os símbolos são o veículo que o iniciado se vale para transmitir algo que, por outros meios, seria muito difícil de assimilar. Assim, há um texto indiano que resume bem essa ideia: “Naquele tempo, Brama o senhor anunciou: A doutrina que vou revelar excede em muito as possibilidades de um espírito comum; segredo dos segredos, ela não deve ser divulgada, mas reservada ao homem de bem que, fechado para a ilusão do mundo, apenas deseja entende-la.”
2 – Outro motivo claro do sigilo é a possibilidade do não-iniciado distorcer o conhecimento revelado. Como o leigo tem pouca clareza, não possui o devido preparo e o conhecimento adequado, ele fatalmente iria distorcer e adulterar aquilo que aprendeu. O mesmo processo pode ser facilmente percebido na sociedade humana. Ensine a uma pessoa não versada em filosofia os conceitos mais profundos do platonismo. Inevitavelmente e sem qualquer intenção de faze-lo, há imensa probabilidade dos conceitos serem distorcidos, posto que, para apreender o sentido mais central e nuclear, é necessário conhecer um contexto maior, que só pode ser conquistado através de uma leitura mais apurada, algo que o leigo não possui. Dessa forma, caso o não-iniciado fosse passar o saber recebido a outra pessoa, inevitavelmente iria distorce-lo, ensinando de uma forma equivocada aquilo que recebeu.
3 – Mesmo que o conhecimento fosse revelado ao espírito comum, nenhum proveito ele poderia tirar disso, já que lhe carecem os meios de, em primeiro lugar, compreende-lo, e em segundo lugar, utiliza-lo de forma útil e proveitosa. Dessa forma, nenhum utilidade teria um conhecimento que não pode ser usado para um objetivo maior. Seria mero conhecimento ou cultura inútil, algo vazio de significado, uso e função.
4 – Revelar um conhecimento secreto a um homem superficial poderia ser perigoso para ele e para os outros. Há muitos conhecimentos que, caindo em mãos erradas, de aproveitadores e charlatães, poderiam causar estragos nas pessoas que dele fazem um emprego indevido. Por analogia, o conhecimento da fabricação da bomba atômica seria algo terrível nas mãos de terroristas. Todo poder outorgado à pessoas que não sabem usa-lo ou que desejam alguma vantagem pode ser extremamente arriscado e comprometedor. Ninguém duvida do estrago que um revólver poderia fazer nas mãos de um maníaco ou um psicopata, ou mesmo um carro que corre a 200 km por hora nas mãos de um motorista amador. Quanto maior o poder, mais apta a pessoa deve estar para fazer o uso correto daquilo que possui. Pierre Riffard diz: “A água afoga quem não sabe nadar e transporta quem sabe”. Um homem comum, recepcionando um conhecimento e uma técnica muito além de suas capacidades de penetração e dos efeitos que isso poderia gerar, pode arruinar sua vida, colocar em xeque sua integridade física e mental, além de levar outros com ele. Sabendo-se que o instrução arcana gera incrível poder, é necessário oculta-la de pessoas orgulhosas, arrogantes, que buscam apenas seus interesses pessoais e egoístas. O sábio Ibn Arabi diz: “Esse tipo de conhecimento espiritual deve ser encoberto para a maioria dos homens, devido a sua sublimidade. Por que essas profundezas são difíceis de atingir e os perigos são grandes”.
5 – Uma outra razão do sigilo seria a possibilidade de uma pessoa alheia ao círculo interno causar certa perturbação aos iniciados, ou mesmo ataca-los, critica-los e agredi-los de várias formas. Assistimos com pesar a esse tipo de investida contra a sabedoria esotérica em grandes proporções na Idade Média. Tudo o que entrasse em contradição com as regras pré-estabelecidas deveria ser banido de pronto. Obviamente nos dias de hoje felizmente tudo está mais flexível e por esse motivo, muito do que antes era oculto, agora começa a ser descortinado e ensinado abertamente. Os iniciados desejam ardentemente que a sabedoria arcana seja revelada o mais amplamente possível, mas isso só pode ser realizado no momento certo, quando existir um terreno fértil para que as sementes plantadas possam germinar livremente. Semear em terrenos secos e pobres em nutrientes nada poderá trazer de produtivo. Por isso, conhecimentos avançados podem ofuscar o homem comum. Clarificando sua consciência, ele pode não gostar de encarar seus limites e ver a verdade. Assim, pode se tornar agressivo por ter seu interior desnudado e agir contra aqueles que o tentaram ajudar mostrando-lhe sua própria realidade. Não vemos esse tipo de comportamento distribuido abundamente em todos os setores da vida humana? A luz pode ofuscar as trevas e as trevas podem reagir em forte oposição. Jesus fala abertamente sobre isso “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e voltando-se contra vós, vos despedassem” (Matheus 7,6).
6 – Uma razão muito importante do sigilo é o valor da preparação que se deve dispensar à conquista da sabedoria. Os místicos e iniciados permanecem anos, décadas e mesmo várias existências corpóreas preparando-se para avançar em consciência e rrecepcionar uma sabedoria mais profunda dos mistérios da vida. É como um estudante que estuda horas diárias a matéria de uma prova que o habilitá para o ingresso numa universidade, onde obterá conhecimentos mais avançados. Diz Pierre Riffard: “A disciplina do arcano representa um exercício espiritual, uma prova iniciática.” Assim, muitas Ordens tradicionais e escolas de mistério possuem um sistema de graus de estudo e prática. Uma pessoa que se encontre no segundo grau e pule para o décimo grau, não terá a devida preparação e tampouco o entendimento para receber os ensinamentos concernentes ao grau mais adiantado. É necessário bastante tempo de estudo e prática, geralmente em forma de exercícios psicoespirituais, práticas de meditação e muitas outras formas de experimentação, tal como a transmutação do nosso karma. Toda essa preparação vai aos poucos refinando a consciência do praticante, tornando-a mais sensível ao ensinamento sutil, fazendo com que novas e profundas verdades, que antes passavam despercebidas, agora sejam panoramicamente vislumbradas. As Ordens Iniciáticas não procuram descrever a verdade para seus discipulos, elas ensinam que a verdade, enquanto verdade, é intransmissível pela via intelectual: apenas um saber direto pode ser eficaz. Por isso, as organizações e confrarias não conduzem seus alunos ao final da estrada, e evitam mencionar com detalhes o que será encontrado. Antes de tudo, os mestres dessas Ordens apontam o caminho que o discípulo deve percorrer e informam sobre os melhores meios para segui-lo. Assim, o conhecimento arcano é como um caminho, ele não representa um fim em si mesmo, mas uma passagem para algo além; algo que pode apenas ser apreciado pelo próprio individuo.
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