Transcendendo o Karma e a Dualidade
Já foi falado sobre a Lei do Karma como lei de causa e efeito. Esta Lei Universal equilibra nossas ações no tempo dentro do nosso mundo de dualidade.
Esse tipo de ação dual sempre está carregada de desejo/espectativa do ego (base do gosto e não-gosto). Por exemplo, se durante a ação ou planejamento (o próprio planejar já uma ação) nossa espectativa só abrange os aspectos positivos, deixando-nos excessivamente alegres, logo após a realidade virá nos mostrando os aspectos negativos, deixando-nos excessiva e proporcionalmente tristes. Assim, equilibra-se o positivo e o negativo.
Em nosso mundo relativo, tudo na vida (toda “realidade”) possui o aspecto negativo e positivo. Tanto externa como interiormente. Quando focamos na realidade o lado positivo, vai chegar um momento em que essa positividade não irá se sustentar e então virá a negatividade. Assim como depois de todo Dia vem sempre a Noite, e assim sucessivamente.
A proposta do Caminho do Meio, do Budismo e do Taoísmo é que nossas ações partam do meio, do centro, dessa consciência neutra, verdadeira e real. E onde fica nosso meio, nosso centro?
Fica no peito em nosso Coração, sede de nossa consciência superior que é sempre imparcial e justa. Assim, o Caminho do Meio é o Caminho do Coração! É também o Caminho que todas as religiões pregam.
No Taoísmo utiliza-se a expressão chinesa Wu Wei para significar esta ação partindo do Tao, do Centro Vazio Onipotente, da Verdade Absoluta Real Imparcial Sempre Justa, da Essência do Todo e de Tudo.
Hotu
Hotu – representação da geração do Tai Chi (Yin-Yang) partindo do vazio
Copio aqui o que a Wikipédia traz sobre o Wu Wei:
Wu Wei (chinês tradicional: 無為; chinês simplificado: 无为) é um princípio básico da filosofia Taoísta que tem que ver com saber quando se deve ou não agir. Wu pode ser traduzido por não ter; Wei pode ser traduzido por fazer, agir, servir como, governar.
O significado literal de Wu Wei pode ser traduzido como “sem acção” e é muitas vezes incluído na expressão paradoxal wei wu wei (爲無爲 ou 为无为): “acção sem acção.” A prática de wu wei tem como objectivo atingir um «estado de graça» em harmonia com o Tao (o chamado «regresso precoce [ou original]»).
O Tao Te Ching de Lao Zi [traduzido tb como Lao Tse ou Lao Zu] é uma das pricipais referências para a compreensão do pensamento chinês.
Se entendermos bem a natureza das coisas e conseguirmos esquecer tudo o que aprendemos que tenta ir contra ela, conseguimos fazer tudo o que é possível, com o mínimo esforço. Porque acabamos por deixar as coisas seguirem o seu curso natural. Não fazemos nada (claramente por nossa vontade própria) mas nada fica por fazer.
Na busca do conhecimento, todos os dias algo é adquirido,
Na busca do Tao, todos os dias algo é deixado para trás.
E cada vez menos é feito
até se atingir a perfeita não-acção.
Quando nada é feito, nada fica por fazer.
Domina-se o mundo deixando as coisas seguirem o seu curso.
E não interferindo.
Tao Te Ching 道德經 (Cap.48)
Devemos agir de acordo com a nossa vontade apenas dentro dos limites da nossa natureza e sem tentar fazer o que vai para além dela. Devemos usar o que é naturalmente útil e fazer o que espontaneamente podemos fazer sem interferir na nossa natureza. E não tentar fazer aquilo que não podemos fazer ou tentar saber aquilo que não podemos saber. A felicidade é essa «não-acção» perfeita (wu wei 無為 ).
Para conseguirmos entender o curso natural das coisas e seguirmos o Caminho temos que conseguir desaprender muitos conceitos. Para os podermos desaprender é preciso que antes os tenhamos aprendido. Mas temos que passar a um estado muito parecido com o estado inicial em que estavamos antes de o termos aprendido.
Se abrirmos os olhos de repente, há um brevíssimo momento durante o qual o nosso cérebro ainda não analisou o que está a ver. Ainda não distinguiu as cores e as formas nem descodificou o que se está a passar à nossa frente. Os taoistas procuram viver o mais perto possível desse estado. É uma renúncia à análise, sempre imperfeita, da realidade.
A coisa mais macia e flexível no universo
Consegue vencer a coisa mais dura.
E só o que não tem substância (e não existe)
pode entrar onde não há uma fenda por onde entrar.
É essa a vantagem da não-acção.
Mas poucos entendem o ensino sem palavras
E os benefícios da não-acção.
Tao Te Ching 道德經 (Cap.43)
Comentário: Quando a água que corre no leito de um rio encontra uma rocha no seu caminho, cede sem resistir e ajusta-se a ela de um modo tão perfeito que ultrapassa esse obstáculo e segue o seu caminho com a mesma facilidade que teria se ele não existisse. E, contudo, «água mole em pedra dura tanto dá até que fura».
É fácil manter a estabilidade enquanto as coisas estão estáveis.
É fácil lidar com as coisas enquanto elas não mostram sinal de irem mudar.
O que é frágil é fácil de quebrar, o que é pequeno é fácil de dispersar.
Mas há que pôr as coisas em ordem antes de haver confusão.
Porque as coisas se podem transformar nos seus opostos.
Uma árvore do tamanho do abraço de um homem começa por ser pequena.
Uma torre de nove andares começa por ser um monte de terra.
Uma viagem de mil léguas começa num passo.
Encarrega-te dos problemas antes deles surgirem.
Assim, evitarás ter depois de agir.
As dificuldades são facilmente superadas antes de começarem.
Aquele que age pode complicar a obtenção do que pretende.
Aquele que agarra as coisas, perde-as.
Quem é sábio não faz nada de errado porque não age.
Não se prende a nada e, por isso, nunca perde nada.
Tao Te Ching 道德經 (Cap.64)
Um estado deve ser governado com a justiça normal.
Uma guerra deve ser gerida com golpes de surpresa fora do normal.
Mas o mundo deve ser controlado sem forçar, pela não-acção.
Como sei eu que é assim?
Porque quanto mais decretos proibitivos existirem,
Maior será a pobreza do povo;
Quanto mais armas existirem, maior será a desordem;
Quanto mais engenho e técnica existirem,
mais estranhos produtos aparecerão;
Quanto mais regras e regulamentos,
mais ladrões e bandidos haverá.
Por isso o sábio diz:
Não farei nada e as pessoas transformar-se-ão por elas próprias;
Contentar-me-ei com ficar quieto e as pessoas ficarão honestas;
Sem me preocupar com isso, as pessoas enriquecerão;
E, sem que eu o deseje, terão uma vida boa,
Voltando à simplicidade primitiva.
Tao Te Ching 道德經 (Cap.57)
O Karma normalmente é visto como obstáculo, mas todo problema no outro lado é solução, assim todo obstáculo é também aprendizado, é conscientização!
Sejamos como a água quando encontra um obstáculo. Ela não o nega, aceita-o e flui conforme sua natureza! Será que para a água é difícil fluir? Será que a água se esforça para fluir? Ela apenas segue sua natureza e mesmo parada continua fluida.
Mesmo se a congelarem ela guarda dentro de si sua natureza e quando descongelar a água irá fluir! O que é que nos congela? Nossos hábitos e conceitos!
Nossa razão hoje é formada em cima de conceitos falsos a que estamos habituados, que são anti-naturais. Somente passando a seguir nossa essência é que nossa razão passa a ter como base a Verdade!
Cristo disse: “Eu Sou a Verdade, o Caminho e a Vida”!
Transcender o Karma e a Dualidade não é eliminá-los e sim respeitá-los!
Os apóstulos de Jesus pergurtaram-lhe: – Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e não te deixas levar de respeitos humanos, mas ensinas o caminho de Deus segundo a verdade; é-nos lícito ou não pagar tributo a César? Mas Jesus, percebendo a astúcia deles, disse-lhes: – Mostrai-me um denário. De quem é a efígie e a inscrição que ele tem? Responderam: De César. Disse-lhes Jesus: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e maravilhados da sua resposta, calaram-se”. (Lucas, xx, 17-26)
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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